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Mostrando postagens de abril, 2015

A marcha de Jesus

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No último final de semana tivemos um evento na maior cidade do Brasil, que repercutiu internacionalmente, e foi recebido por muitos líderes evangélicos como mais um passo rumo a “evangelicalização” do país, estou me referindo a Marcha para Jesus . Não sei qual é o real sentido, ou mesmo propósito de tal marcha. Confesso que nunca sei se é apenas uma tentativa de mostrar o crescimento de um segmento religioso, ou de uma proposta de transformação da sociedade. Alguém já se perguntou qual o objetivo dessa marcha? Sua bandeira? Seu propósito? Enfim, prefiro não dar muita ênfase nesse tema e tratar da Marcha de Jesus . No evangelho de Lucas, capítulo  9, versículos 51-56. O evangelista fala de uma marcha profética de Jesus em direção a Jerusalém, com o propósito de proclamar o Reino de Deus e incluir as pessoas na missão.   Essa passagem de Lucas pode ser entendida por nós como uma espécie de moldura que compreende os fatos mais importantes da vida de Jesus. Talvez, os dois momento

Volta, Bultmann!!!

Em tempos de crise sempre se procurou olhar para o passado, buscando nele referenciais que possam ajudar na interpretação do presente. Isso ocorre nas diversas ciências chamadas de humanas (sociologia, filosofia, história, etc.). Acredito que estamos vivendo numa crise de paradigmas, e vez ou outra nos deparamos com aberrações, que relutamos com nossos próprios sentidos, a fim de negar o que nossos olhos estão vendo e nossos ouvidos estão ouvindo. Isso ocorre frequentemente comigo quando participo de celebrações cristãs em que os líderes utilizam textos bíblicos para legitimar posições e doutrinas aparentemente verdadeiras, mas que na verdade não tem fundamento exegético algum. Pensado nisso, fui impelido a buscar num dos mestres da exegese do século XX, alento para minha alma. E graças a Deus e a Rudolf Bultmann consegui encontrar. Bultmann (1884-1976) foi um teólogo luterano alemão que concentrou seus estudos na área do Novo Testamento e ficou conhecido, sobretudo, pel

Deus e a violência

Desde que fui morar no seminário senti que muitas coisas na vida mudaram, posso aqui destacar um aspecto que para mim é um dos principais: o distanciamento da realidade da periferia. No dia em que cheguei a minha casa recebi a notícia de que um colega de meus pais, que era pedreiro, homem piedoso, idôneo, trabalhador, pai de família foi assassinado por seu colega, um serralheiro que não havia concordado com alguns detalhes da obra em que estavam trabalhando. O pedreiro foi espancado até a pauladas. Alguns dizem que ele havia quebrado o pescoço por causa da brutalidade do agressor. Ao receber a notícia fiquei introspectivo, pensei, entristeci e me fiz a crucial pergunta: Onde está Deus na violência?! Automaticamente me veio à mente a narrativa bíblica da morte de Abel. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou. E disse o SENHOR a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardad

A favor da causa Palestina

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Essa semana, mais uma vez, circularam nos veículos de comunicação notícias sobre a violência cometida por Israel em relação aos palestinos. Fato corriqueiro nesses últimos sessenta anos. Os conflitos na região acentuaram-se após a criação do Estado de Israel, no final da primeira metade do século passado. Utilizando-se de pretextos supostamente históricos, o governo israelense hostiliza os palestinos com seu grande potencial bélico. Aliado histórico dos Estados Unidos – que atingiu o status de grande potência mundial, após o fornecimento de armas para as duas grandes guerras do século XX – Israel adota a política da agressão, estimulado por interesses – sobretudo econômicos – estadunidenses.  A região do Oriente Médio sempre esteve nos planos norte-americanos. No período da guerra fria, optou-se por apoiar o Afeganistão na luta contra os soviéticos, posteriormente, o apoio foi dado ao Iraque. Ambos os paises, após contrariarem os interesses “do aliado”, passaram a ser

A vocação pública do cristianismo

A religião, de forma geral, e o cristianismo em particular, já foram objeto de especulação dos mais variados aspectos das ciências, mas poucas vezes se pensa sobre a função pública da religião, ou no caso do Brasil – país predominantemente cristão – do cristianismo. No imaginário popular, a função das igrejas cristãs restringe-se somente ao ato de fazer novos adeptos, ou ainda, novos fiéis; quando não se liga a questões de arrecadação financeira e enriquecimento de líderes à custa desses. Sem divagar sobre as implicações que envolvem a temática, constata-se que os principais valores do cristianismo têm sido deturpados, posto que a sociedade atual está imersa em uma crise de valores, que tem afetado a vida de milhares de pessoas. Com o advento da Modernidade tardia, ou para alguns, da Pós-modernidade, tem-se em na maioria dos países do Ocidente a dissolução dos paradigmas e das metanarrativas, o que em outras palavras significa a ausência dos antigos referencias. Todos os v

Messianismo e banditismo

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A teologia bíblica nunca foi meu forte. Isso é tão verdade que meus professores, via de regra, me dizem que como biblista até sou um bom teólogo sistemático. Ironias a parte, tem algum tempo que venho refletindo sobre a saga do famigerado Davi. Em diversas leituras que fiz do “homem segundo o coração de Deus”, encontrei consonância com um tema bem controverso: o banditismo social. Um dos especialistas em banditismo social afirma que o fenômeno é típico de sociedades camponesas, e que tais pessoas, geralmente são vistas pela população como heróis, pelo fato de identificarem-se com os explorados e não se oporem diretamente ao rei. Sua oposição é aos corruptos e aos que ameaçam a ordem social, com pilhagens e roubos, geralmente são identificados com o ideal messiânico. (HOBSBWAM, 1975, p. 15 -22). Na América Latina não são raros os casos de banditismo social. Temos, no Brasil, o clássico caso de Virgulino Ferreira, vulgo Lampião, no México o exemplo de Pancho Villa e em diversas lo

O messianismo político brasileiro em tempo de eleições

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O ideário messiânico é componente identitário de vários povos, não sendo, exclusividade judaico-cristã. Cabe lembrar que o protótipo desse pensamento encontra-se na história dos hebreus, que formularam a concepção do “ungido” que redimisse o povo no momento em que passavam por muitas dificuldades no Exílio Babilônico. Desse contexto, além do conceito de messias ungido, data a formatação da redenção messiânica de Israel através do que teologicamente se conhece como o servo sofredor, ou servo de Deus (ebed Iaweh) situado nos capítulos finais do livro de Isaías, escrito provavelmente por um de seus discípulos que “ vivia junto do povo no cativeiro da Babilônia, em torno de 550 antes de Cristo, bem depois da morte do profeta Isaías. Não sabemos o nome desse discípulo. Alguns chamam de segundo Isaías. ” (MESTERS, 1981, p.19). A mentalidade messiânica canalizada para a figura de uma pessoa que representaria a união de um povo é fruto, além de outras coisas, da chamada “ retro