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Mostrando postagens de junho, 2018

Fotografia 3x4

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Eu me lembro muito bem do dia que eu cheguei Jovem que desce do Norte pra cidade grande Os pés cansados e feridos de andar légua tirana De lágrimas nos olhos de ler o Pessoa E de ver o verde da cana Muitos são os caminhos que levam uma pessoa a sair de uma cidade do interior rumo a uma metrópole. As dores se mesclam entre o físico e o existencial. Ler Pessoa, ter os pés cansados e ver o verde da cana lembram muito isso. Memórias, sofrimento e trajetória. Em cada esquina que eu passava um guarda me parava Pedia os meus documentos e depois sorria Examinando o 3x4 da fotografia E estranhando o nome do lugar de onde eu vinha Uma vez fui de Goioerê a São Paulo. Eu era parado em quase todos os postos policiais. Às vezes tinha a impressão de que os guardas paravam o carro para conferir se a cidade existia de fato. Sempre perguntavam: onde fica essa cidade? É interior, não é? Pois o que pesa no Norte, pela lei da gravidade Disso Newton já sabia: cai no Sul, g

Marighella incomoda mesmo depois de morto.

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O governo federal por meio da Ancine (Agência Nacional do Cinema) suspendeu a verba para a veiculação do filme: Marighella dirigido por Wagner Moura e tendo como ator Seu Jorge, interpretando o revolucionário. Cinquenta anos depois de sua morte Marighella volta a incomodar o Estado. O motivo? Luta pela democracia e liberdade, assim como, superação dos desmantos estatais por meio de governos truculentos. O assunto é polêmico, sobretudo, por que há no Brasil atual a tendência de negação de verdades históricas. Nega-se a ditadura; negam-se as lutas e os ideais coletivos e não se reconhece a luta e resistência histórica dos ideias comunistas e movimentos armados das décadas de 1960 e 1970. A trajetória política de Carlos Marighella apesar de extensa e conturbada, pode ser resumida em alguns parágrafos. O político nasceu em Salvador no ano de 1911, e ingressou no Partido Comunista do Brasil (PCB) em 1932. Atuou como militante do partido na Bahia até 1936, quando foi enviado pela direç

Poimén kalós: entre bodes e ovelhas

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Muito se fala sobre atributos e características de obreiros na Bíblia. Isso é sempre cobrado e enfatizado a esmo por lideranças, igrejas, cursos, seminários etc. Todo mundo sabe cobrar as funções de um pastor ou pastora. Curioso que até mesmo pessoas que não tem vínculo religioso possuem um imaginário a respeito da figura pastoral: “mas um pastor? Pensar assim? Fazer isso? Fazer aquilo?”. Há cobrança e um ideal pastoral. Se tomarmos “a Bíblia” como exemplo e olharmos atentamente será que ela sinaliza o comportamento das “ovelhas”? Das pessoas de uma determinada comunidade de fé? No evangelho de João Jesus aponta quatro características do que seriam comportamento de ovelhas; 1 – Deixar ser íntima do pastor: “A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora”. João 10.3 Não há como ser ovelha sem se deixar sem íntima do pastor. Por isso ele consegue distinguir quem é quem e chama-las pelo nome. Enquanto pessoas viver

As diferentes compreensões sobre o Espírito Santo

A experiência do Espírito Santo segundo Paulo. As comunidades fundadas por Paulo tiveram verdadeiras e fortes experiências com o Espírito Santo (experiências pneumáticas ), a mensagem do Evangelho chegou a não por meio de ensinamentos teóricos, mas com manifestação de poder (Gl 3,2). Isso fica evidente na carta à comunidade aos Gálatas, em que o apóstolo mostra toda a sua indignação (Gl 3,14). Na epístola aos Romanos, o apóstolo retoma o tema tratado com os gálatas (Rm 8,15) em que Paulo se refere a um fato experimentado pelos romanos. Em outra oportunidade ele escreve aos tessalonicenses e recomenda que os mesmos não extingam o Espírito. Fato presente na realidade de fé desses fiéis. De todas as comunidades paulinas a experiência que fica mais evidente é a de Corinto. Essa era uma comunidade em que a experiência com o Espírito Santo foi muito forte e determinava todas as ações da comunidade. Em alguns casos, Paulo teve que reafirmar alguns valores e pressupostos doutriná

O dia em que li Marcella Althaus-Reid

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Um dia desses eu estava mexendo com alguns artigos e resolvi ler “La teología indecente” de Marcella Althaus-Reid e me deparei com um texto surpreendentemente crítico e original, altamente propositivo, atual e que dialoga com demandas prementes na sociedade. Nem preciso dizer que para os patrulhadores dogmáticos da teologia o texto é uma heresia. A essa gente que encara a vida como uma fogueira da inquisição é melhor nem olhar para a capa do livro, mas para aqueles e aquelas que estão procurando algo novo e crítico é um texto muito convidativo. Uma das coisas que chamam atenção em Althaus-Reid é sua crítica (pertinente) à teologia da libertação. Nunca tinha lido uma crítica com tanta propriedade. Nem mesmo Juan Luis Segundosentidosualquer outro teólogo) foi tão a fundo na crítica. Althaus-Reid simplesmente denuncia que por trás do discurso do pobre havia um alinhamento à necessidade de produção acadêmica e que, de fato, a teologia da libertação pouco acrescentou à temátic