Deus e a violência
Desde que fui morar no seminário senti que muitas coisas na vida mudaram,
posso aqui destacar um aspecto que para mim é um dos principais: o
distanciamento da realidade da periferia.
No dia em que cheguei a minha casa recebi a notícia de que um colega de
meus pais, que era pedreiro, homem piedoso, idôneo, trabalhador, pai de família
foi assassinado por seu colega, um serralheiro que não havia concordado com
alguns detalhes da obra em que estavam trabalhando. O pedreiro foi espancado até
a pauladas. Alguns dizem que ele havia quebrado o pescoço por causa da
brutalidade do agressor.
Ao receber a notícia fiquei introspectivo, pensei, entristeci e me fiz a
crucial pergunta: Onde está Deus na violência?! Automaticamente me veio à mente
a narrativa bíblica da morte de Abel.
E falou Caim com o seu irmão Abel; e
sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e
o matou. E disse o SENHOR a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não
sei; sou eu guardador do meu irmão? E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue
do teu irmão clama a mim desde a terra (Gen. 4, 8-10)
Deus está presente na lágrima da viúva, no sangue do pedreiro “Abel” que
clama por justiça, no clamor dos oprimidos, aí Deus está e clama pela justiça,
não a justiça paliativa, mas sim aquela que visa erradicar o mal em sua origem.
Pois ambos são vítimas tanto o assassino quanto o assassinado.
Dentro de uma estrutura social que cada um tem sua função a violência
também cumpre um papel social. Isso para manter o status quo e legitimar o poder dos mesmos, fazendo as classes
inferiores pensarem que a culpa é do assassino que “não tinha Deus no coração”
ou qualquer coisa assim. A culpa da violência e de todos nós quando nos calamos
em relação a injustiça enquanto o sangue dos “Abels” continuam clamando.
Por isso Paulo denuncia que a luta do cristão não é contra carne e nem sangue, mas sim contra principados e potestades, ou seja, a
luta tem que ser travada contra as estruturas superiores com as estruturas dominantes
que regem a sociedade e fazem perpetuar a injustiça.
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