A vocação pública do cristianismo
A religião, de forma geral, e o
cristianismo em particular, já foram objeto de especulação dos mais variados
aspectos das ciências, mas poucas vezes se pensa sobre a função pública da
religião, ou no caso do Brasil – país predominantemente cristão – do
cristianismo.
No imaginário popular, a função
das igrejas cristãs restringe-se somente ao ato de fazer novos adeptos, ou
ainda, novos fiéis; quando não se liga a questões de arrecadação financeira e
enriquecimento de líderes à custa desses.
Sem divagar sobre as implicações
que envolvem a temática, constata-se que os principais valores do cristianismo
têm sido deturpados, posto que a sociedade atual está imersa em uma crise de
valores, que tem afetado a vida de milhares de pessoas.
Com o advento da Modernidade
tardia, ou para alguns, da Pós-modernidade, tem-se em na maioria dos países do
Ocidente a dissolução dos paradigmas e das metanarrativas, o que em outras
palavras significa a ausência dos antigos referencias. Todos os valores morais
e os sistemas religiosos estão imersos, consciente ou inconscientemente, nesse
dilema, sendo que, seus efeitos podem ser sentidos no cotidiano de nossa
sociedade.
Os processos sociais e novas
mudanças pelos quais passamos são fruto desse momento. Os exemplos são sentidos
no dia-a-dia. A juventude não tem limites, pois a maioria dos pais que foram
formados nos padrões da Modernidade consideram violenta tal formação e adotam a
“livre conduta” para educar seus filhos; no âmbito da religião não se observa à
fidelidade aos sistemas estruturantes como em tempos passados, uma vez que, o
novo momento permite “experimentar” as mais diversas espiritualidades sem
compromisso com os sistemas doutrinários, o que gera uma bricolagem isenta de
pressupostos e valores estabelecidos.
O resultado disso é uma sociedade
com ausência de valores e perdida na própria liberdade. O afã de buscar a
liberdade a qualquer custo fez com que os valores morais e religiosos fossem
tidos como obsoletos e considerados ultrapassados, incutindo na mente das
pessoas que não há limites para nada: amar, divertir-se, envolver-se em
relacionamentos, formar os filhos. Por isso sinaliza-se para a busca de sentido
e referencia nos sistemas estruturantes.
O cristianismo presta seu serviço
à sociedade quando aponta para valores morais e éticos, denunciando as mazelas
da sociedade; os excessos e as defasagens que a “nova ordem” nos legou. Isso
rompe com a visão de que a fé cristã restringe-se (exclusivamente) ao ato de
fazer novos adeptos, arrecadação financeira e auxílio às necessidades
espirituais de seus adeptos.
A vocação pública do cristianismo
está na reestruturação dos valores perdidos, fundamentando as bases de uma vida
salutar e comprometida com o bem-estar social; reafirmando valores tais como:
responsabilidade, respeito, tolerância, bom-senso, caráter, entre outros. Nisso
consiste a dimensão pública da fé cristã, algo que extrapola o lado
transcendental e compromete-se com o cotidiano, de forma concreta.
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