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Mostrando postagens de outubro, 2019

Coringa - um olhar esquizoanalítico

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“O esquizofrênico situa-se no limite do capitalismo: é a tendência desenvolvida deste, o subproduto, o proletário e o anjo exterminador” (DELEUZE; GUATTARI, 2010, p.54). Gostei muito do filme do Coringa que resolvi dessa vez tratar o filme por meio de uma olhar esquizoanalítico. A melhor definição de esquizoanálise é a seguinte: filosofia alternativa ao sistema capitalista que valoriza a “loucura” produtiva como maneira de resistir e fugir dos padrões da sociedade de mercado, visando expandir seus limites e provocar rupturas nos moldes normativos da sociedade. Arthur Fleck começa o filme como um esquizofrênico dopado. Ele serve ao sistema. Por isso não oferece nenhuma ameaça. Apesar de não ser o exemplo de normatividade; possui uma vida dentro do controle do capital. Trabalha; cumpre horário; assiste TV; toma seus remédios controlados e segue sua vida. A situação começa virar quando um gatilho dispara na mente de Arthur e seus fluxos passam a ser descodificados (

É possível falar sobre luta de classes nos dias de hoje?

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Tem ocorrido um movimento no Equador que reacende um velho debate: ainda é possível falar em luta de classes? Diante de uma sociedade pluralizada e segmentada qual é a atualidade do pensamento marxista? Sem dúvidas a obra de Karl Marx e Friedrich Engels é extensa. Um artigo para falar do legado desses dois pensadores deveria ter uma amplitude e abordagem que demandaria um labor teórico gigante. Não é nosso intuito aqui tratar dessa amplitude. A alternativa mais coerente seria tomar alguma obra importante dos autores e partir dela para analisar verossimilitude com a realidade. Assim faremos partindo de “Manifesto do Partido Comunista”. O texto é datado de 1848 – período da segunda revolução industrial na Inglaterra. A Europa já vivia sobre a ascensão da burguesia e estava num novo período de sua história. Aquela Europa feudal, rural com seus nobres e sua pompa cedia lugar ao sistema frio, urbano e cruel. As relações de produção – quase familiares – passaram a ser administr

Presente de um amigo

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Fiz aniversário por esses tempos e ganhei de presente um livro do Danilo Nogy intitulado “como eu sobrevivi aos anos 90”.   O presente foi dado por meu amigo Francisco Thiago, mais conhecido com o “Amado”. Amado é um amigo que eu fiz nos tempos de seminário – Idos da década passada. Ele é uma pessoa que curte a cultura nerd. Teólogo como eu. Não mais pastor, também como eu. Amado e eu tínhamos sonhos e esperanças que compartilhávamos juntos nas inúmeras conversas. O quarto 23 do edifício João Wesley era uma espécie de confessionário, capela, sala de terapia, pub, escritório, biblioteca,  etc. Bons tempos aqueles. (Amado vindo me abraçar. Itaiçi - SP. 2010). Voltando ao livro. Nogy fala dos anos 90 e de tantas coisas boas e também bizarras que ocorreram naqueles tempos. Ler o livro e lembrar da amizade do Amado estão nas mesma repartição cerebral em minha mente. Sentimentos muito bons que nutro com alegria e nostalgia. Ao meu ver Nogy e Amado são pessoas parec

Coringa

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O filme “Coringa” é uma obra-prima digna de ser assistida por mais de uma vez. O filme é intrigante e cheio de críticas sociais e políticas. Isso somado ao bom-humor e valorização do personagem principal como contraponto à normalidade da sociedade capitalista. Arthur é um palhaço mal sucedido que cuida da mãe doente. Vai à psiquiatra; se droga (com remédios farmacêuticos que não são outra coisa além de drogas) e vive sua medíocre vida. Num estado quase miserável e morando num lugar deplorável se droga para poder sobreviver. De início pode-se observar a critica à sociedade hipocondríaca, que precisa viver dopada em suas drogas para não se revoltar com a miséria do sistema. Arthur é mal sucedido, mas seu sofrimento é amenizado pelas quase uma dezenas de remédios que sua psiquiatra lhe   prescreve. A psiquiatra é agente do estado. O próprio estado produz a doença social e oferece a cura. Tudo em nome do controle social e financeiro. A cidade de Gordon está um caos,

Profetismo em Israel

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Um dia desses uma pessoa me perguntou o que eu achava dos profetas. Nunca, até então, me tinha ocorrido a ideia de escrever algo sobre o tema, ainda que em forma de verbete, mas me senti impulsionado por essa dúvida a registrar – ainda que de forma sucinta – o que entendo sobre o assunto. No geral, as pessoas têm a impressão de que profecia tem relação direta e indireta com adivinhação, presságio ou coisa parecida. Muita gente costuma chamar de profeta quem faz previsões sobre o futuro e de profecia catástrofes, mas a profecia bíblica pouco – ou nada – tem relação com isso. Se tomarmos a classificação clássica da profecia a data mais precisa é o século IX. Seus dois expoentes são Elias e Eliseu. A linha que liga movimentos extáticos e espirituais do livro de I Samuel a profecia do Antigo Testamento é descartada por Von Rad e Fohrer, por exemplo. Para Von Rad: “Outrora admitia-se que o profetismo se havia desenvolvido em linha reta desde os grupos extáticos de I Sm 10:5ss até