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Mostrando postagens de abril, 2020

Bacurau

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Bacurau é um filme intrigrantemente forte. Essa é a melhor definição que consigo dar à obra que é, além de tudo, um mergulho na identidade do povo brasileiro.   O filme é rico em detalhes, simbolismo e possui uma mensagem de resistência e luta. O nome Bacurau é de um pássaro noturno, que não gosta de ser incomodado. Em uma das falas do filme pergunta-se: “quem nasce em Bacurau é o que? A resposta é: gente.” Nada mais brilhante. Gente. Gente do Brasil. Os símbolos do filme exibem algumas curiosidades. A cidade se encontra no interior do nordeste e não consta no mapa. Ao mesmo tempo as pessoas são conectadas com a internet. Possuem tablets; celulares e se comunicam por rádios transmissores. A população, embora do interior, parece muito bem informada. Nas casas os livros e pequenas bibliotecas são colocados ao fundo das cenas. Bárbara Colen e Sônia Braga são duas médicas da comunidade. Bárbara interpreta Teresa, uma médica que foi criada na cidade, mas ficou muito temp

Itinerário de um profeta: ações e contradições

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Henrique Takahashy em seu brilhante texto “O evangelho segundo os Racionais Mc´s” aborda a formação e atuação do grupo sob um olhar sociológico. Por diversas vezes faz analogia da atuação do grupo com passagens e personagens bíblicos. De acordo com essa abordagem o grupo figuraria como um novo Israel frente ao Império egípcio, numa releitura do êxodo hebraico. A periferia, representada nas diversas letras, seria então o povo oprimido, como menciona Takahashy. "As figuras dos egípcios e do Faraó são reatualizadas, numa perspectiva periférica, respectivamente, em “ playboys ” e “sistema”. Os playboys seriam figurados enquanto aqueles indivíduos pertencentes s classe social dos dominantes que oprimiriam o povo, da mesma forma que os egípcios oprimem os hebreus. O sistema seria a estrutura dominante e injusta que oprime e explora a classe popular, os moradores de periferia, de modo a deixa-los submissos e docilizados. Esse seu poder estrutural possui um teor absoluto e a

Uma liturgia da sobrevivência

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Nesses tempos de quarentena tenho ficado mais recluso e dedicado meu tempo a velhos projetos que nunca tinha terminado. Um deles era escrever alguma coisa sobre rap e teologia. Já em 2011 eu havia encorajado um amigo a fazer seu TCC sobre “a teologia do rap”. Eu tentaria ajudar na medida do possível. Os anos se passaram e fiquei muito empolgado quando em 2018 foi lançado o livro “Sobrevivendo do Inferno” pela Companhia das Letras. O meu exemplar eu comprei na lendária Livraria Cultura, na avenida Paulista. Há tempos eu venho sendo assombrado por minhas memórias que me interpelam a cerca do que ainda não fiz e deveria ter feito. Eu ouço Racionais desde o começo de sua carreira. Conheço todos seus discos. Fui a shows do grupo. Discuto e defendo a importância do rap e sua mensagem, mas nunca tinha escrito nada a respeito. Encorajei pessoas a fazê-lo, mas eu mesmo nunca tinha feito. Esses dias de difícil sobrevivência (pandemia do COVID-19) tenho me dedicado a repensar sobre rap e