O dia em que li Marcella Althaus-Reid
Um dia desses eu estava
mexendo com alguns artigos e resolvi ler “La teología indecente” de Marcella
Althaus-Reid e me deparei com um texto surpreendentemente crítico e original,
altamente propositivo, atual e que dialoga com demandas prementes na sociedade.
Nem preciso dizer que
para os patrulhadores dogmáticos da teologia o texto é uma heresia. A essa
gente que encara a vida como uma fogueira da inquisição é melhor nem olhar para
a capa do livro, mas para aqueles e aquelas que estão procurando algo novo e
crítico é um texto muito convidativo.
Uma das coisas que
chamam atenção em Althaus-Reid é sua crítica (pertinente) à teologia da
libertação. Nunca tinha lido uma crítica com tanta propriedade. Nem mesmo Juan
Luis Segundosentidosualquer outro teólogo) foi tão a fundo na crítica.
Althaus-Reid simplesmente denuncia que por trás do discurso do pobre havia um
alinhamento à necessidade de produção acadêmica e que, de fato, a teologia da
libertação pouco acrescentou à temática da exploração e subsunção da mulher no
sistema patriarcal. O deus da teologia da libertação continuou sendo um deus
machista!
A ousadia de
Althaus-Reid está em se pensar uma teologia sem dogmas, sem pudor e, como a
autora mesmo diz sobre sua tarefa, “levantar a saia de Deus para ver o que tem
em baixo”. Sensacional. Uma teologia alegre, viva, encarnada. Uma vez que se
pensa a partir do corpo aviltado da mulher. Aviltado pela sociedade patriarcal
controladora e dominadora.
A sociedade ocidental
sustentada pelo capitalismo e por um cristianismo conservador é patrulhadora de
corpos! Seus mecanismos visam domesticar, estipular papeis delimitar funções,
cercear a liberdade e o prazer dos corpos. “Lo indecente” se coloca na
contracorrente, visa denunciar essa opressão e pensar a teologia de forma
livre (e por que não dizer profana?).
A teóloga indecente
fala da vida, dos corpos, de vários corpos, dos possíveis e dos utópicos dos
estáticos aos performáticos. A quem pertence a teologia? A ninguém. A quem
pertence a teologia? A todos e todas. Qualquer pessoa pode fazer teologia.
Qualquer corpo pode fazer a teologia, seja ela dogmática ou indecente.
A teologia é um jogo.
Jogo lúdico, erótico, corporal em que os atores podem e devem saborear o divino
a partir de suas experiências dando liberdade de criação e produção aos seus sentidos. Althaus-Reid reinterpreta textos e sinaliza símbolos jungianos e
freudianos para descrever o erótico na teologia.
Certamente uma das
teólogas mais arrojadas e atuais para se pensar a questão dos corpos em nosso
tempo. “La teología Indecente”. Excelente texto!
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