Barbie: um filme com várias camadas

 Depois de tanto ouvir falar do filme Barbie finalmente fui assistir e tirar minhas próprias conclusões e posso afirmar sem dúvidas: é um filme com muitas camadas, que não se pode discutir em poucas linhas.


A direção do filma joga muito bem com a questão lúdica e afetiva, pois a boneca marcou gerações. Esse binômio perpassa a temática de forma a interligar várias cenas. Há, como já divulgado, uma crítica ao patriarcalismo (ao meu ver muito mais como sátira, do que proposição real). Mas o filme não se resume a isso, pois trabalha temas como quebra de estereótipos, autonomia, sublimação, recalcamento, projeções e uma gama de assuntos que surgem entre sátiras e cenas lúdicas.



Até mesmo a crítica de que o filme se trataria da mulher na sociedade branca americana não se sustenta, pois observa-se a divisão do protagonismo com pessoas negras, latinas e asiáticas. De maneira geral não se pode fazer essa crítica sobre o “american way of life”.


Por tudo isso o filme tem sido alvo de crítica por parte dos conservadores, contudo, os apontamentos são rasos e não têm incidência prática na realidade. A mulher trabalha, possui autonomia – nem tanto, quanto deveria – e nada do que o filme aponta “ameaça” a moral conservadora.


Há o incentivo às pessoas se assumirem como, de fato, são e ampliação dos horizontes referentes à vida humana como um campo de possibilidades abertas. Isso ameaça o patriarcado?


Na verdade a crítica ao patriarcado é bem ácida e faz menção de elementos freudianos (que supostamente legitimam o poder) como obsoletos para as aspirações atuais. O patriarcalismo tosco, ancorado num sistema fálico de poder e dominação estaria com os dias contados? A insistência nesse modelo ou nesse tipo de sociedade não é condizente com a realidade concreta do mundo atual... Eis a questão.


E o que dizer dos cavalos como símbolo de dominação? Vocês já ouviram falar de Nietzsche? Então, em sua filosofia ele diz que a dominação do super-homem ou a vivência dos valores do super-homem estaria ligados a dois elementos apolíneo e dionisíaco, respectivamente relacionados ao caos e à ordem. No filme os cavalos (leitura minha) sinalizam para essa dinâmica tanto é que quando Ken resolve instaurar seu patriarcado insiste na bebida como elemento central (dionisíaco).

Bom filme para que gosta de humor inteligente e uma crítica ácida.

 

 

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