O algoritmo da imagem
Já faz tempo que não escrevo nada para esse blog e eu mesmo já não estou tão inspirado como outrora para escrever nada. Sempre pensei que o interessante da escrita é a divulgação, independente de quem seja o autor ou a autora do texto. Contudo, depois de uma conversa com amigos que disseram sentir falta de ler alguma coisa que escrevo (muito por conta da forma como me posiciono) farei nesses breves linhas que se seguem algumas considerações sobre um assunto que me prendeu nesses últimos dias.
Meu amigo Marcelo me apresentou
um canal de Youtube (o algoritmo da imagem) no qual a apresentadora, senhorita
Bira, faz uma análise semiótica de eventos contemporâneos ligados à política e
sociedade. Já há no Youtube um canal semelhante (Tempero Drag), entretanto a
forma com que srta. Bira coloca e pondera as questões chamou-se atenção.
É interessantíssimo que ela critica
a forma com que se constrói valores e tendências por meio da semiótica e ela
mesma utiliza esses elementos em seus vídeos. Isso fica muito explícito depois de
assistir o vídeo sobre Marilyn Monroe. Nesse vídeo Bira mostra a forma com que
foi construída a personagem destacando cada elemento junto com as poses e falas
(milimetricamente calculadas). Curiosamente Bira se utiliza desses mesmos elementos.
A forma de falar; olhar; o tom melancólico enfim. Tudo utilizando os recursos
da semiótica.
Com relação ao conteúdo a
apresentadora se coloca como crítica ao sistema, alguém de esquerda, mas se engana
quem pensa que vai encontrar uma militância identitária e que faça uso de chavões
e palavras que foram consagradas ultimamente como politicamente corretas. Bira
extrapola essa questão e, embora faça uma análise crítica, evita cair num
reducionismo. Ela foca no que realmente importa: a luta de classes.
Longe de qualquer clichê e elementos
trabalhados no pensamento ortodoxo tradicional a abordagem de Bira é concisa e
realista, pois desvela, de fato, os bastidores do teatro do poder. Há muitas
questões curiosas que são colocadas, sobretudo, delineando o perigo das
chamadas “guerras híbridas” que são otimizadas pelo sistema capitalista fazendo
valer sempre seus interesses no final das contas.
Fazia tempo que não via uma
pessoa aplicar os conceitos relacionados à ideologia e alienação de Marx de forma tão bem trabalhados. Sutil,
realista, precisa, atual. Esses são adjetivos aplicáveis às análises de Bira,
que embora insista que seus vídeos tendem a uma linguagem popular e não se fixem
aos conceitos acadêmicos seus conteúdos são muito bem trabalhados e seus vídeos
preparados e “milimetricamente calculados”.
Durante uma semana “maratonei” vários
e me identifiquei com os conteúdos e a forma de conceber a realidade. Reitero:
fazia tempo que não via algo assim, principalmente, no Youtube.
Convido às pessoas que leram esse
texto a conferir o canal “o algoritmo da imagem”.
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