Menino mamba-negra
Para quem é assinante TAG o mês de novembro trouxe um livro “Menino mamba-negra” de Nadifa Mohamed. Trata-se de um livro denso que trata do período da ascensão do fascismo ao final da Segunda Guerra Mundial. A narração fica por conta da filha de Jama, personagem principal.
Jama nasceu no Iêmen num período de extrema pobreza
e desde a terna idade teve que lidar com a ausência da figura paterna. A
situação de miséria fez com que passasse passar por várias privações. Desde
muito pequeno teve que trabalhar para ajudar nas despesas domésticas. O pai deixou
a família para trabalhar no Sudão. A mãe trabalhava como doméstica em casas de
família.
Fome e miséria eram companheiras constantes de Jama. Em
sua adolescência chegava a disputar, juntamente com os amigos, as sobras de
comidas dos restaurantes. Diante das dificuldades do dia-a-dia Jama (por volta
dos 10 anos de idade) resolve sair em busca do pai. Já havia saído de casa. Passou
a morar na rua. Sua mãe adoeceu e ele mal teve tempo de vê-la morrer vítima do
descaso dos patrões e da falta de estrutura financeira.
O romance se passa num período de guerra e muitas são as
localidades africanas dominadas pelos europeus, que sofreram os horrores da guerra.
A narrativa visa conferir voz e vez para quem foi dominado pelas potências europeias
e sentiu na pele os males causados não somente pela situação da guerra em si,
mas também do preconceito, eurocentrismo, xenofobia e outras coisas do tipo.
No sentido da narração a autora consegue construir
cenas de dor e sofrimento com maestria assim como faz com as cenas de beleza.
Há passagens que a imaginação consegue acessar o cheiro, cor e temperatura dos
lugares, comidas, perfumes, etc. Algo magnífico.
Em seu itinerário em busca do pai Jama passa por
vários lugares em que a guerra acontecia. Em cada um deles há características e
histórias que são contadas visando fazer com que o leitor se situe e conecte-se
com o ambiente. Fica a impressão que o mais importante nem é o encontro com o
pai em si, mas o caminho, pois no caminho as coisas acontecem de forma surpreendente.
Muitas das histórias são de tirar o fôlego. Ação, romance, aventura. Há espaço
para tudo isso.
Em determinado momento da trama Jama descobre que seu pai havia morrido. O jovem fica triste com a notícia, mas resolve seguir rumo ao Egito em busca de novas oportunidades. Uma das narrações mais emblemáticas é quando passa por um parque de diversões e gasta todas suas economias.
Do ponto de vista da psicanálise a trama faz todo o
sentido, pois ao sair ao encontro do pai Jama queria encontrar-se consigo mesmo,
ou seja, queria a infância da criança que foi roubada pela ausência do pai. Quando gasta tudo na diversão perdida quita-se
sua dívida com a infância.
Na passagem por Eritreia, o jovem havia conhecido Bethlehem, uma jovem, os dois se enamoram.
Tempos depois Jama recebe a carta de que a jovem estava grávida e volta para ser um pai presente, ao contrário do seu.
É uma história cheia de detalhes, densa, mas de excelente
qualidade.
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