Teologia Negra para o Brasil
A releitura de “Deus dos Oprimidos” de James Cone é algo que tem feito parte de meus exercícios de reflexão e meditação. Uma vez que se trata de um clássico da Teologia Negra e é uma obra que todo o teólogo deveria ler.
O que mais me chama atenção no texto de Cone é seu apelo para uma teologia contextual partindo de um ponto de vista específico: o lugar do negro. Os Estados Unidos institucionalizou o racismo. Diferentemente do Brasil, que praticou a escravidão e o racismo (que perdura até os dias atuais) e que o nega pelo fato de o mesmo não ter sido institucionalizado.
Há outras diferenças entre os Estados Unidos e o Brasil. A colonização nos Estados Unido deu-se em sua maioria por meio dos protestantes e com isso foi sendo gerada uma tradição de igrejas negras. Os escravos e ex-escravos tinham essa tradição bem delimitada. No Brasil a tradição negra não foi desenvolvida dentro do cristianismo ficando a encargo das chamadas religiões de matriz afro fazê-lo.
Uma das coisas mais importantes a serem pontudas na teologia de Cone é o lugar vivencial de onde partem as reflexões. A herança da igreja negra está sempre no prisma. Além disso, o autor destaca que a referência bíblica para pensar a questão encontra-se na tradição do Êxodo, que trata da libertação do povo de Israel do Egito. Um destaque especial dado Cone é que o povo hebreu era um povo negro.
A crítica social fica a encargo da leitura sociológica que é proposta por meio de alguns instrumentais que auxiliam na leitura e proposição do tema. Não se trata de uma dependência dos referenciais, mas de sua utilização apenas como elementos articuladores.
Elementos como soteriologia e escatologia são igualmente ressignificados visando fugir de uma lógica meramente espiritualista. Não se trata, portanto, de algo restrito ao “celeste por vir”. A relação pode (e deve) ser feita em conexão com a realidade do presente. Para isso é salientada a importância de uma boa compreensão não somente das escrituras, mas também da realidade vivida pela população negra.
A teologia é conhecida como ciência hermenêutica, ou seja, uma interpretação da palavra de Deus para os tempos atuais. A atualização é sempre uma constante, pois de acordo com que as demandas surgem é necessário que se pense em algo que as responda.
A Teologia Negra é, além de tudo, uma teologia profética, pois denuncia o racismo e opressão da população negra, inclusive na igreja. Essa é uma temática que deve ser retomada devido aos últimos acontecimentos mundiais e nacionais.
No Brasil o desafio que se faz a essa teologia é dialogar com elementos como samba, candomblé e outros da
cultura da resistência e libertação negras.
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