Apego a ambientes fechados

 

Essas poucas linhas são insuficientes para fazer uma análise mais detalhada do pensamento de Lourenço Mutarelli como escritor e quadrinhista, mas algumas obras deixam transparecer a personalidade do artista e suas preferências.

Em Diomedes, Mutarelli mostra dois traços que lhe são peculiares: o habito excessivo por cigarro e certo apego por lugares fechados. Na trilogia o detetive Diomedes, depois de a esposa abandoná-lo, passa a viver no escritório (local em que mora e trabalha). O lugar parecer insalubre, mas para o detetive é confortável. Ele passa tempo lá dentro e parece gostar do local.




Mutarelli em algumas entrevistas deixa transparecer que não gosta de circular pelas ruas e prefere ficar em casa. Isso fica explícito em sua obra. Diomedes precisar “ganhar a vida” e por isso é obrigado a sair de seu recinto. Não fosse isso ficaria lá por mais tempo.

Outro personagem que mostra esse lado “caseiro” é Paulo em “Nada me faltará”. Ele perde a memória e volta para a casa da mãe, quando lá chega sente-se à vontade de tal forma que prefere ficar em casa a sair com os amigos como se pode observar nessa breve passagem:

“Paulo desce que tem visita pra você.

Jã vou, mãe.

Senta, Carlos.

Eu nem vou sentar, dona Inês. Quero ver se tiro ele um pouco de casa”. (MUTARELLI, Lourenço. Nada me faltará. São Paulo: Companhia da Letras, 2010, p.66).

Às vezes ficar em casa é uma boa opção. Muita gente não entende quando recusa-se um convite para sair ou fazer alguma atividade. A existência humana é capaz de criar e interagir com os mais diferentes lugares fazendo com que os mesmos passam a ter importância e simbolismo significativo.

A casa é um lugar de intimidade, assim como, alguns locais de trabalho o são. A relação que se desenvolve com eles pode ser de dependência, alívio, sublimação e ressignificação. Esses elementos se fazem presentes de forma concreta na obra de Mutarelli. Sabe-se que nada mais são do que a representação da própria existência humana.

 

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