Educação sustentável
Às quartas-feiras depois que se iniciou o período das aulas remotas tive a oportunidade de participar das formações da secretaria de educação do município de Cruzeiro. O grupo que faço parte é coordenado pela professora Elisabete Souza (Betinha da inclusão). Nas formações os temas são diversos. Geralmente orbitam em torno do tema da inclusão e educação especial. Mas nos últimos encontros o tema da sustentabilidade tem aparecido de forma recorrente. Por isso, esboçarei alguns parágrafos a respeito do que considero importante sobre o assunto.
Não partirei de nenhum
pressuposto pedagógico, mas sim de uma perspectiva filosófico-teológica para
fundamentar meus argumentos. Sendo assim, começarei com um texto de Paulo aos
Romanos em seu capítulo 8.
“Porque
sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do
Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção
do nosso corpo” (Rm. 8,22-23).
A perspectiva de Paulo é de que o
ser humano e a criação são parte de um mesmo proposito. A redenção e
sinalização para o novo “éon”, isto é, novo céu e nova terra. Isso é feito,
segundo o apóstolo, por meio de ações humanas que propiciem a regeneração da
natureza juntamente com a identidade original do ser humano como imagem e
semelhança de Deus.
A teologia paulina trata do tema
da santificação, que em síntese é, a aproximação dos valores do Reino de Deus.
Quanto mais próximo do bom; belo; agradável; de boa fama; promotor da vida,
etc. mais próximo se está de Deus. Nesse sentido, torna-se cada vez mais
importante desenvolver uma cultura que prime por preservar e “curar” a natureza
em concomitância com a vida humana.
Cada vez que a fauna e a flora
são agredidas o ser humano sofre dano também. Isso direta ou indiretamente. A
cultura capitalista e de exploração da natureza de forma inconsequente nos
legou uma série de problemas, que necessitam ser corrigidos por meio de uma nova
cultura.
Nesse sentido Marcelo Barros e
Frei Betto defendem que é premente uma mudança em nossos costumes e modo de
vida. Vejamos:
“É urgente fazer do cuidado
espiritual com a natureza uma cultura, um estilo de vida alternativo. Esse
estilo de vida, como vimos, não consiste apenas na simples mudança de costumes
ou um modo de viver mais ligado à natureza. Isso é importante, mas se trata de
algo que vai além. Diz respeito ao modo de habitar no planeta, de trabalhar,
comprar, consumir, viajar.” (BARROS; BETTO; 2009, p.203).
Aqui convergem teologia,
filosofia e pedagogia, pois somente por meio de uma pedagogia inclusiva
(amplamente falando) conseguiremos abarcar as várias demandas que o mundo
exige. A forma de lidar com a terra; a água; o plástico e outros elementos que
afetam diretamente o meio ambiente deve ser pauta dos países que pretendem
preservar a vida no planeta.
Sem salvar a natureza a humanidade
não será salva. Isso já nos advertiu certa vez Leonardo Boff. O autor também
traz à baila o pan-en-teísmo (Deus em tudo). Para ele toda a estrutura
existente é perpassada pela centelha divina. Dessa maneira, Deus está presente
nas relações da natureza e do cosmos, de forma, geral.
“O pan-en-teísmo parte
distinguindo, embora sempre relacionando, Deus e criaturas. Um não é outro. Cada
qual possui sua autonomia relativa, quer dizer, sempre relacionada. Tudo não é Deus,
mas Deus está em tudo. É o que a etimologia da palavra panenteísmo sugere: Deus
está presente em tudo. Faz de cada realidade seu templo. E vice-versa, tudo
está em Deus. A ele nunca vamos, dele nunca saímos, pois estamos sempre nele,
porquanto “nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17, 28). (BOFF, 1999,
p.52).
Partindo dessas premissas é
necessário pensar numa educação que faça da relação de sustentabilidade com a
natureza um de seus imperativos. Pois do contrário não haverá vida e muito
menos possibilidade de mudança. Cuidar enquanto é tempo; incluir sempre e
educar para transformar. Esse deve ser nosso lema.
BOFF, Leonardo. Ecologia,
mundialização e espiritualidade: a emergência de um novo paradigma. São Paulo:
Editora Ática, 1999.
BARROS, Marcelo; BETTO, Frei. O
amor fecunda o universo: ecologia e espiritualidade. Rio de Janeiro: Agir,
2009.
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