A casa Eterna

 


Imagina um dia poder ir à casa do Rubem Alves e bater um papo com ele. Já pensou? Então, meu amigo, Moisés Coppe, fez isso e colocou tudo “na ponta do lápis”. O fruto dessa conversa foi o livro chamado a “ A casa Eterna: conversas com Rubem Alves”.

 O livro foi lançado no ano de 2017, mas é muito atual. O texto mescla partes das conversas com livros, artigos e crônicas de Rubem Alves. Moisés traduz com grande competência o pensamento do teólogo, filósofo, poeta, escritor e psicanalista de forma terna – como sugere o título da obra.


Os capítulos foram organizados de forma compactada - e isso confere mais dinamicidade ao texto. São tratados vários temas: arte, política, teologia, literatura, filosofia e afins. A leitura flui envolvendo o leitor em cada história. Cada parágrafo parece ser milimetricamente calculado. A impressão que se tem é que quando se chega ao ápice de uma história. Ela termina, e o leitor se pergunta: como será o próximo capítulo? Daí vai e começa a ler o outro na mesma empolgação do anterior.


Há uma profundidade teológica no texto incomensurável. Aliás, Moisés é um escritor e poeta “de mão cheia”. Na verdade, ele não escreve, ele tece. É um tecelão de palavras. Cada minúcia; cada ideia; parágrafo são trabalhados com a dedicação e fidelidade ao pensamento de Rubem Alves de forma fantástica.


Além dos escritos teológicos há menções às fábulas, crônicas, contos e poesias. Tudo de forma poética e crítica. É incisivo, mas sem perder a ternura. Isso sempre foi característico dos escritos de Rubem Alves.


Quando trata da teologia há sempre a questão recorrente sobre Rubem não se identificar mais como teólogo, mas quando questionado por Moisés respondeu que para ele a teologia sempre foi uma tarefa a ser feita com leveza. No que Moisés escreveu:


“A leveza de uma teologia não significa uma teologia sem profundidade. A teologia de Rubem considera com profundidade as ideias de beleza, desejo, prazer e ócio, ludicidade e brinquedo. Por isso, em minha concepção, há uma proximidade entre teologia e aspecto lúdico inerente à vida no pensamento de Rubem”. (COPPE, 2017, p.61).


Num mundo frio e polarizado como o que se apresenta nos últimos tempos a leveza “soa” como subversão. A leveza sempre foi a proposta do evangelho, mas a religião dura, fria e moralista utilizou de argumentos frágeis e pobres para condenar Jesus à morte por conta disso: não conseguiu conceber a leveza como proposta de vida. E hoje? Será que é diferente?


Moisés em suas conversas com Rubem Alves nos inquieta e desafia a pensar numa proposta, não somente de teologia, mas de uma vida leve e “bem humorada”.

COPPE, Moisés. A casa Eterna: conversas com Rubem Alves. São Paulo: Fonte Editorial, 2017.




Comentários

  1. Manão! Fiquei emocionado com o seu texto! Obrigado por essas lindas palavras e, especialmente, pela sua sensibilidade. Bjão!

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