Jesus da gente
Ao acordar nessa manhã e abrir meu facebook muitos dos meus
amigos e minhas amigas estavam elogiando o desfile da “Estação Primeira de
Mangueira” com o enredo Jesus da gente. A intenção era retratar Jesus
identificado com as minorias sociais.
Para quem não sabe a teologia tem duas maneiras de apresentar
Jesus. Uma como o Jesus de Nazaré, histórico que viveu na Palestina no primeiro
século como um ser humano normal, sem os óculos da religião e o Jesus da fé, o
santo, glorioso, salvador da humanidade. São duas perspectivas: uma ligada ao
cotidiano da vida e outra às questões soteriológicas e “espirituais”, por assim
dizer.
O enredo trata de Jesus como um negro de periferia, filho de
pais pobres, trabalhadores que sofreram com a política nefasta do Império
Romano. O Jesus de Nazaré, que viveu na Galileia das nações desde pequeno
frequentou um ambiente de pluralidade religiosa. Uma vez que a Galileia
permitia essa interação. Era um negro que sofreu os preconceitos e mazelas do
sistema.
A Mangueira trouxe todo esse arcabouço que o aparato
religioso dominante tenta ocultar. Jesus tinha uma causa: a causa dos pobres,
oprimidos e necessitados; das minorias, por isso seu discurso não coaduna com a
proposta do “messias com arma na mão” (como diz no enredo). Jesus de Nazaré não
quer o domínio sobre os corpos, mas a libertação dos mesmos. Ele não quer a perseguição
dos adversários, mas o perdão. Não quer a eliminação dos diferentes, mas a
alteridade.
Quando no desfile aparece na ala das baianas – assisti num
compacto – as mães de santo sendo crucificadas é mais um recado do Jesus de
Nazaré que não compactua com a intolerância religiosa. No Brasil evangélicos
invadem e depredam terreiros em nome de Jesus, mas não o “Jesus da gente”. Esse
Jesus não se compraz com isso.
O menino tatuado, de cabelo pintado, que não completou
dezoito anos aparece crucificado como Jesus. É a denúncia do genocídio da população
negra e pobre. Esse é o Jesus descrito em Matheus capítulo vinte e cinco. O que
está preso sem justificativa; morre sem nem saber o motivo. Não tem culpa de
ter nascido em berço pobre, de família humilde e não ter tido oportunidades na
vida.
Mais do que um desfile o enredo é uma denúncia. Denúncia de
um país que optou pela violência; pela arma na mão; pela redução da mulher à
categoria de objeto sexual; de violência contra LGBT´s; do não diálogo.
Por que muitos cristãos se incomodam? Por que o Jesus de
Nazaré coloca em xeque o sistema de mordomia em que vivem e faz com que muitas “escamas”
caiam dos olhos. O messias é da gente; da paz; do povo e ele não tem arma na
mão e nem compactua com a injustiça.
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