A era Bolsonaro
Quando forem contar a história dos dias de hoje num futuro
distante infelizmente vão falar que vivemos a era Bolsonaro. Não que eu goste
desse nome ou admire. Nada disso, mas Bolsonaro é bem mais que um nome; não é
só uma família, mas um estilo de vida um ethos, uma maneira de ser, que representa o inconsciente de muitos brasileiros.
A era Bolsonaro é a celebração do grotesco; da ignorância;
da violência simbólica; da ausência de diálogo. O ano de 2019 ficou marcado,
entre outras coisas, pela ameaça à liberdade de imprensa. Coincidentemente no
ano em que Bolsonaro assumiu a presidência. Ele trata com rispidez quem não
concorda com ele. Corta perguntas de jornalistas pela metade. Sempre cercado de
partidários é ovacionado a cada resposta (mal) dada; cada sinal de falta de
educação vira motivo de aplausos.Não somente isso, as pessoas transpõem para a vida cotidiana essa grosseria. Isso vira quase uma regra de convivência. Parece que está autorizada a ignorância e a rispidez. Se a autoridade máxima da república o faz, por que não fazê-lo?
A era Bolsonaro faz com que tudo que Bolsonaro faça seja
aprovado por seus seguidores (ou ceguidores?). Bolsonaro é a favor do fundo
partidário. Os seguidores aplaudem; Bolsonaro fala mal de Paulo Freire. Os
seguidores vibram; Bolsonaro simplifica a oposição sobre a alcunha de petista e
comunista. As pessoas gritam: É isso mesmo. E vida que segue. Há alguém que critique o governo? Tal pessoa é "mandada" para Cuba, Venezuela e Coreia do Norte. Se falar alguma coisa contra Bolsonaro é petista, não adianta. A era Bolsonaro dividiu famílias. Sempre houve aquele parente mais grosso e mal educado, não houve? Hoje ele é autorizado a mostrar suas "asinhas". Sabe por que? Porque estamos na era Bolsonaro.
A era Bolsonaro é a personificação do que é mais grotesco no
brasileiro: seu machismo; homofobia; preconceito; piadas de duplo sentido. Tudo
isso está envolto quando se trata da era Bolsonaro.
Não. Não se engane. A era Bolsonaro vai além de Bolsonaro. É
a celebração do absurdo. Até que ponto vai o limite da liberdade de expressão?
Na era Bolsonaro o Brasil vive a negação de esfericidade da Terra. Sim. O que
durante séculos foi tido como científico e provado cientificamente é
questionado com base em pesquisas de “autodidatas” e canais no Youtube. A era Bolsonaro faz com que canais de Youtube com 1 milhão de seguidores tenham mais crédito que a ciência; as pesquisas; os livros. Esses dias assisti a um Youtuber "bolsonarista" falando coisas de Marx que não estão escritas em lugar nenhum. Mais de 300 mil comentários apoiando. Não importa se ele está certo, afinal estamos na era Bolsonaro.
A era Bolsonaro celebra a versão subjetiva ao invés da
cientificidade. Pesquisadores foram mandados embora por serem contra opiniões
subjetivas de Bolsonaro. Há professores que são perseguidos por falarem sobre
ditadura. Bolsonaro nega a existência da ditadura. Uma pesquisa que utilize
esse termo é censurada. Aliás, na era Bolsonaro diz-se que nem existiu
ditadura. Além disso, exige-se que o livro de um torturador seja incluído como
fonte histórica. Na era Bolsonaro o Brasil teve 14 anos de comunismo; a ditadura gay acabou; pôs se fim ao estatismo. Tudo o que é privado ganha espaço.
Na era Bolsonaro até as igrejas passaram a incorporar um
discurso diferente. Amor, paz comunhão estão fora de moda. Bandido bom é
bandido morto é o lema. Somos contra o comunismo. Outro lema. Deus amor, mas é
fogo consumidor é interpretado ao pé da letra.
Na era Bolsonaro cristãos tem defendido porte de arma e tiro
em “vagabundo”. As igrejas sustentaram a campanha de Bolsonaro. Com medo de um
“kit gay” que ninguém sabe o que é... venceu-se uma eleição.
É bem mais que Bolsonaro. A era Bolsonaro é a celebração do
lado mais boçal do brasileiro. Infelizmente.
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