Eco-teologia


Nos últimos dias vários assuntos ganharam destaque nos noticiários brasileiros. Um deles foi o “dia virando noite” em São Paulo. Os especialistas explicaram que isso se deu por conta das queimadas desenfreadas na Amazônia. Algumas agencias ligadas ao meio ambiente estimam que cresceu significativamente o desmatamento na região nos últimos anos.

Diante disso fica a pergunta: o que a teologia tem a ver com isso? Tudo.

Se tomarmos a Bíblia como um livro de literatura em que se leve em conta o chamado “arco literário” veremos que o primeiro livro começa narrando a criação do céu e da terra e o último livro trata do novo céu e nova terra. Sendo assim, não podemos desconectar a criação da soteriologia e até mesmo da escatologia. A necessidade premente é repensar uma teologia da criação. Como propõe Leonardo Boff.

“Uma teologia da criação nos ajudará a encontrar o sentido de uma teologia da redenção. Redenção supõe um drama, uma decadência na criação, e na vocação humana uma ruptura que atinge todos os humanos e também seu entorno cósmico. Porque o ser humano não cultivou nem preservou a criação ela mesma se sente ferida. Por isso, consoante São Paulo, ela geme e clama por libertação (Rm. 8,22).” (BOFF, p.49).

O fundador do movimento metodista traz também importante contribuição para nossa reflexão. John Wesley ficou conhecido por levar às últimas consequências o tema da santidade social, que em suma implica na responsabilidade do cristão com os temas insurgentes na sociedade tais como violência, política, meio ambiente, direito das minorias, etc.

John Wesley e os primeiros metodistas levavam esse tema muito à sério e primavam pela santificação social. Por isso preocupavam-se com escolas, orfanatos e demais obras sociais. Talvez se vivessem nos dias de hoje engajariam nas lutas pela preservação do meio ambiente – não como forma de militância política, mas como consciência cristã.

Assentido a isso Runyon conclui sua exposição sobre Wesley e o meio ambiente da seguinte forma:

“Para Wesley, portanto, a fé santificadora não pode, de modo algum, divorciar-se do cuidado com o meio ambiente. Ver as coisas verdadeiramente, ser “puro de coração”, é ver-nos novamente “na família da natureza”, vencer a ignorância e a indiferença que nos tornaram “estranhos” àquilo que nos sustenta e assumir alegremente as disciplinas espirituais e físicas e os sacrifícios necessários não apenas para proteger a terra, mas para manter a aliança com as gerações que ainda não nasceram. Pois a “santidade social” hoje inclui não apenas a nossa associação com os atuais habitantes do planeta, mas com gerações futuras para quem, como mordomos, deteremos a custódia da terra. Não pode haver santidade hoje que não a santidade moldada por essa tarefa, nem tampouco pode haver espiritualidade que não seja nutrida e animada pelo Espírito criador.” (RUNYON, 258).

ENVIA TEU ESPÍRITO, SENHOR. E RENOVA A FACE DA TERRA!

RUNYON, T. A nova criação: a teologia de João Wesley hoje.  São Bernardo do Campo: EDITEO, 2002.
BOFF, L. Ecologia, mundialização e espiritualidade. São Paulo: Editora Ática, 1999.


Comentários