A igreja e o racismo


O ano era 2008. Eu um simples seminarista do interior do Rio de Janeiro perdido em meio a correria de São Paulo. Olho no corredor. Um negro alto de fala mansa e sorriso aberto. Ao sorrir apertou a minha mão e me convidou para entrar. Era um encontro sobre negritude e os evangélicos. Algumas pessoas, conversa a plenária iria começar.

O homem que me recebeu falaria na plenária. Seu nome: pastor Marco Davi. Começava ali um despertar de consciência evangélica sobre negritude. Para mim aquele encontro não dizia respeito a nenhum movimento social. A sensação que tive no momento (e que me acompanha até hoje) é que foi um despertar espiritual.

Para ele pode ser que tenha sido mais um dos centenas de encontros sobre negritude e evangelho. Para mim foi o despertar de uma consciência. O homem de fala mansa e sorriso largo foi profundo em palavras. Aliás, não precisa ser enérgico, vociferar, empolgar o auditório com bravatas para ser profundo e tocante. A imponência vem pelo conhecimento; pela vivencia e pelo testemunho evangélico.

Compartilho minha tristeza ao saber que o pastor Marco Davi e a irmã Fabíola Oliveira foram “desconvidados” para um evento que trataria sobre racismo e fé cristã. Sobre Fabíola pouco posso falar por que não a conheço pessoalmente, mas mesmo assim os testemunhos a seu respeito são de que é uma mulher preta, evangélica que combate o pecado do racismo com propriedade. Uma preta evangélica empoderada. A isso o machismo coronelista das igrejas teme e treme.

As notícias foram chegando e a cada minuto uma nova informação. O evento realizava-se na igreja em que a família presidencial costuma ter acento cativo. Não se pode esperar muito. Quem saúda um governo que é contra os pobres e profere todo o tipo de preconceito tem muito o que temer sobre a fala de pessoas pretas criticas ao status quo.

Há um tempo circulou um vídeo na internet do pastor Ariovaldo Ramos salientando que a igreja brasileira é uma igreja de coronéis. Ari estava mais do que certo. Eu acrescento. A igreja brasileira é uma igreja de coronéis que cultua a “branquitude”. Os poucos negros que a compõem são, como disse Marx lúpen.

Fica meu testemunho e indignação sobre o ocorrido além da certeza de que estou do lado correto da história. Estou do lado de Jesus; dos pobres; dos pretos; dos professores de todas as pessoas que incomodam esse povo que se acha dono de tudo.

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