Ditadura à brasileira


Há tempos queria falar sobre o livro do Villa “Ditadura à brasileira”, mas nunca o tinha lido. Como consegui compra-lo em uma promoção resolvi dedicar algumas linhas para tratar dessa obra.

Já havia lido alguma coisa do Villa. Lembro-me de que na campanha presidencial de 2018 ele criticara a tese doutoral de Fernando Haddad com certo desprezo intelectual.Arrogou-se como grande pesquisador e escritor. Pois bem. O livro de Villa não é dos melhores para tratar do período – embora não se trate de uma tese doutoral não pode ser colocado como uma obra de grande destaque também.

Parece que o autor procurou dar continuidade à biografia de Jango. A biografia é muito boa, já o livro sobre a ditadura não é tão bom. A começar pela própria divisão interna que é repartida em nove capítulos destacando os anos do regime. Por mais que a intenção tenha sido impingir certa didática ao livro dividindo-o por ano não pereceu razoável a maneira que Villa abordou os assuntos.

A proposta principal parece ser dizer que a democracia foi golpeada à esquerda e à direita, mas Villa pouco fala de como a esquerda golpeou a democracia. Há outras obras que tratam disso com maestria. Cito Élio Gaspari e Jacob Gorender. Villa é superficial em abordar a esquerda e suas organizações. Qual golpe que a esquerda tentou dar? Não fica explícito isso em parte alguma.

Outra coisa que chama atenção é a metodologia. Villa considera como ditadura somente os anos compreendidos entre 1968-1978. É uma opção do autor com a qual de pode concordar ou não. Não parece razoável a justificativa de pontuar a ditadura somente após a edição do AI-5. Desde 1964 uma série de imposições foram feitas.

Villa é competente e escreve bem, mas deixa a desejar em algumas coisas nas quais poderia ser mais preciso. VPR, Lamarca, ALN, MR-8, Bete Mendes, Ustra, enfim muita coisa ficou de fora ou foi tratada de maneira artificial. A própria natureza do regime poderia ter sido tratada de maneira mais profunda. Villa sequer cita René Dreifuss ( para mim é um "pecado capital" tratar do regime militar e não citar "1964: a conquista do Estado").


Vale a leitura. Não acrescenta nada novo. Eu, sinceramente, esperava mais.

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