Raízes wesleyanas
As eleições de 2018 revelaram um lado adormecido da
sociedade. Para o espanto de muitos esse lado se mostrou agressivo,
preconceituoso e violento. Mais estranho ainda é que, em boa medida, esse
pacote veio travestido de cristianismo.
Não se pode falar em cristianismo no singular. A gama de
ramificações e denominações é objeto de análises científicas com várias
produções, inclusive. Os cristianismos são diversos e plurais. Mudam no que diz
respeito à forma e em alguns casos até mesmo o conteúdo é alterado.
No que diz respeito ao metodismo a questão se mostra bem
mais complexa. Se tomarmos por base o metodismo histórico e a atuação de John
Wesley e seu grupo observaremos que a Inglaterra do século XVIII respirava ares
de um capitalismo nascente e impulsionador das revoluções industriais.
Naquele tempo não se falava em meritocracia e empreendedorismo.
Os metodistas sentiram na pele a segregação imposta pelo capitalismo. Foi na
mesma Inglaterra que as terras comunais deram espaço para os grandes burgueses,
que deixaram à mingua dezenas de milhares de camponeses e trabalhadores
manuais.
A cidade com suas instalações precárias se tornou a única
opção. A média de vida de um trabalhador industrial inglês do século XVIII era
de trinta anos de idade. Muitos se entregavam à bebedeira; não tinham tempo
para estudar e tinham suas vidas dilaceradas pelo sistema que se impunha com violência
dando lucro aos pobres e legando a miséria aos trabalhadores.
Wesley foi um profeta que protestou contra esse sistema
injusto e desumano. Posicionou-se contra a escravidão numa sociedade
escravocrata. Foi contra o lucro exacerbado; orientou os metodistas a agirem
com caridade “doando tudo aos pobres”; construiu orfanatos, escolas, foi uma
voz contra cultural a seu tempo.
Nesse sentido é muito estranho ver metodistas apoiando
políticas que penalizam pobres e anistiam ricos. Não é compatível com o
metodismo a defesa do interesse de sistemas de opressão e segregação como é o
capitalismo neoliberal.
As palavras da vez são meritocracia e empreendedorismo. Para
desmontar essa falácia bastam apenas algumas aulas de introdução à economia.
Nunca um empreendedor pobre se tornará um capitalista.
Em tese capitalista
detém os meios de produção e/ ou faz circular a mais valia, como é o caso dos
banqueiros.
Automaticamente alguém questionará: “Mas, então, o metodista
tem que ser socialista?” Não, necessariamente. O socialismo é uma das (diversas)
teorias críticas ao capitalismo. Há maneiras de se protestar contra o sistema
com autonomia, como fez Wesley e o movimento metodista.
A grande lacuna a ser preenchida pelo metodismo é conjugar
santidade social e avivamento. Não se vive uma em detrimento da outra. Há
possibilidades de viver uma vida de santidade e de uma espiritualidade
carismática com engajamento social. Essa é a proposta wesleyana.
Infelizmente parece que se vive uma coisa dissociada da
outra. A maioria dos metodistas engajados politicamente são de uma espiritualidade
vazia. E os que possuem uma espiritualidade carismática não querem compromisso
social.
Somente um avivamento genuíno poderá conjugar novamente
essas duas facetas da mesma moeda.
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