O filho da revolução


Esses dias fui a uma feira literária de minha cidade, Resende-RJ. Minha intenção foi visitar e olhar livros. Não achei nada muito interessante. Os preços estavam os mesmos das livrarias convencionais. Não havia muitas promoções.

Como sou ávido leitor seria estranho para mim (e para quem me conhece bem) sair de uma feira literária sem nenhum livro. Não tinha me interessado por nenhum livro em especial. Resolvi voltar.  Dessa vez olhei um livro biográfico sobre Renato Russo. 400 páginas. Li a sinopse, foleie. Resolvi levar.

Carlos Marcelo é o autor. Um jornalista formado da UnB. A escrita lembra Paulo Sérgio Araújo em sua polêmica e brilhante biografia sobre Robertos Carlos, outro livro fantástico. Carlos Marcelo é cirúrgico em situar o leitor. Sua precisão em contextualizar os anos 1960 e 1980 é incrível.

O livro começa tratando da formação de Brasília, cita o contexto dos anos 1950-1960 a política; a ditadura. A maneira magistral com que Marcelo transita pelo contexto musical e político é maravilhosa. Diferentemente de outras biografias, o autor faz relações entre bandas, contextos, passeia entre o macro e o micro com muita facilidade. Não centra somente no ambiente do autor, mas faz uma abordagem ampla.

O objetivo do autor parece ser focar na formação dos grupos em que Renato esteve envolvido (Aborto Elétrico e Legião Urbana) e de sua genialidade. O fio condutor e a motivação para escrever o livro é relatado na parte final. Trata-se do lendário show de 1988. Por que Renato Russo não conseguiu fazer um espetáculo em Brasília a altura dos demais? A essa inquietação Marcelo tenta responder através das 400 páginas de seu livro.

A genialidade de Renato é situada por Marcelo em seu devido contexto: a classe média dos anos 1960. Brasília era um enigma. Foi uma aposta de JK que deu certo. Duas décadas depois a capital seria conhecida no Brasil inteiro como a capital do rock. Isso se deveu em muito a atuação de Renato Russo e da Legião.

A vida de Renato é uma constante bricolagem. Da formação de classe média herdou a paixão pela literatura; pela arte; música dos tempos que viveu em Londres a influencia punk; do intercambio cultural com os amigos a paixão e interesse pelo rock e assim foi sendo construída a personalidade do mais influente músico da geração que abalou o Brasil nos anos 1980.

Ao tratar dessa construção e da influencia do rock nos desdobramentos sociais brasileiros no final da ditadura militar, Carlos Marcelo não poupa palavras e faz uma apurada investigação. O livro é
sensacional. Há tempos não tinha lido nada semelhante.

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