Bandidos na tv



Não resumo meus textos somente a questões teológicas e políticas. Viso também tratar de artes e outras pautas pelas quais me interesso e gosto. Uma delas diz respeito a reportagens e séries de investigações criminais.

Um amigo me indicou a série “bandidos na tv”. A primeira série trata da vida de Wallace Souza, um apresentador populista que se tornou deputado com expressiva votação no estado do Amazonas. Wallace apresentava um programa de auditório com ênfase em denúncias contra o crime organizado e tráfico de drogas.

O programa recebia denúncias de crimes e fazia coberturas em tempo real. Com a atuação de Wallace e de sua equipe muitas pessoas foram presas e bandidos foragidos encontrados. A popularidade do apresentador foi tamanha que por três mandatos foi eleito com votação expressiva (na proporção voto/coeficiente eleitoral foi a maior do Brasil).

A série é muito bem construída. É intrigante em seus oito episódios. Os diretores fizeram questão de contrapor as versões (acusação e defesa) e assim deixar por vezes o expectador na dúvida quanto a culpa de Wallace ou inocência.

A trama atinge seu ápice quando o apresentador é acusado por um ex-policial, Moacir Jorge (Moa), de ser o líder de uma organização criminosa que matava traficantes e bandidos para aumentar a audiência do programa, aumentando também, a popularidade de Wallace.

A linha de investigação adotada é de que Wallace e seu filho teriam estruturado a organização paulatinamente. No começo faziam apenas reportagens, depois passaram a forjar provas (plantando drogas) e delatando esconderijo de bandidos foragidos. Por fim resolveram fazer disso uma espécie de sustentação do programa e do mandato de Wallace.Os dois foram acusados de exterminar desafetos e concorrentes para aumentar o domínio sobre as áreas de Manaus.

Moa, o delator, em todo tempo se mostra como um personagem emblemático. Seus depoimentos oscilam entre delatar com detalhes a atuação da organização e negar o envolvimento com Wallace. Em diversos momentos afirma que foi obrigado a inventar versões sobre o caso devido as torturas que havia sofrido.

A trama dá voz a várias testemunhas e faz com que as versões sejam sempre confrontadas. Muitas são as pessoas que negam a participação de Wallace na organização. Assim com muitas são as pessoas que o acusam.

Algumas questões, contudo, são interessantes para a reflexão: se Wallace era inocente por que se cercava de pessoas que eram envolvidas com a criminalidade? Por que insistiu em negar o envolvimento com Moa? Por que se reuniu com traficantes? Por que tinha relação estreita com pessoas ligadas a grupos de extermínio?

Além de Moa e Wallace ganha Thomaz, o chefe da inteligência, tem papel relevante na série. Ele foi o responsável pela investigação e muitas vezes foi alvo de acusações por parte de Moa e do próprio Wallace. Thomaz foi acusado de torturar depoentes e forjar provas.

A estratégia da defesa adotou a linha de perseguição política, visando desqualificar a acusação. Já a acusação reuniu uma série de indícios de que Wallace era o chefe da organização criminosa. Até o último episódio a suspeita paira no ar. Wallace inocente ou culpado? Assista a série e tire suas próprias conclusões.

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