Neopentecostalismo: religião de mercado


Há uma vasta literatura sobre a religião de mercado e o neopentecostalismo como seu representante maior. Em síntese, quando mencionamos o termo “religião de mercado”, estamos nos referindo a inversão epistêmica que desloca o Deus ( dos valores morais, éticos, religiosos) para o deus mercado (imediatista, materialista e existencial). Com a adoção dessa inovação temas como a escatologia e destino final, parecem perder cada vez mais espaço no seio cristão dando margem a discussões do presente como política (no sentido coloquial), influencia das massas, dinheiro e prosperidade.

Estudiosos da religião salientam que o campo, que outrora era ocupado pela teologia católica e evangélica foi desterritorializado, esvaziado, por assim dizer. Em seu lugar houve a ocupação neopentecostal, por meio das propostas de prosperidade, cura, emprego e toda a sorte de “bênçãos materiais” - Curioso é pensar que esse discurso coaduna com a ideia de sucesso da mentalidade capitalista e por que não dizer do “american way of life”?

Vejamos como os filósofos Deleuze e Guattari pensam a temática da desterritorialização:
“Temos que pensar a desterritorialização como uma potência perfeitamente positiva, que possui seus graus e seus limiares (epistratos) e que é sempre relativa, tendo um reverso, uma complementariedade na reterritorialização” (D&G, 2000, p.68).

Em síntese significa pensar que nada do que é desterritorializado fica sem ocupação. Nenhuma esfera, política, social, física ou filosófica. O movimento é concomitante. Ao mesmo tempo em  que há o esvaziamento, há também a ocupação por uma nova forma de operação e/ou nova proposta.

A religião outrora preocupada em melhorar a vidas das pessoas por meio da educação; apontar-lhes o caminho da salvação eterna; conferir-lhes valores éticos e morais, passou a ser vista como um espaço de disputa hegemônica de poder; meio de vida; instrumento para enriquecer por meio de propostas materiais, ligadas ao cotidiano imediato das pessoas.

No caso do neopentecostalismo isso fica bem nítido quando se analisa o declínio das igrejas ditas históricas frente ao novo fenômeno, sobretudo, em fins dos anos 1970 e início dos anos 1980. O Brasil vivia uma expectativa de fim do regime militar, abertura política, campanha por eleições diretas, propostas de crescimento econômico. Isso coadunava com o discurso de positividade e confissão positiva da religião neopentecostal.

Essa interpretação que Deleuze e Guattari oferecem da sociedade capitalista pode ser também utilizada como instrumento para aferir as práticas neopentecostais. Quando mencionam que o que o capitalismo “descodifica com uma das mãos, axiomatiza com outra” (D&G, 2010, p.326) estão sendo fidedignos na análise do neopentecostalismo.

Por aximotização deve-se entender a captura dos fluxos descodificados. Quando uma nova proposta vem à tona ela faz com que a antiga (ou as antigas) esvazie(m)-se de sentido. Para onde vão esses fluxos? Para onde vão as pessoas que o discurso religioso, ético e moral não fazem sentido? Para uma nova forma de viver a fé; a religião; o sagrado. É, então, quando o próprio sistema supre a demanda criada por ele.

 D &G. O Anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 2010.
_____  Mil Platôs. Vol. 1. São Paulo: Editora 34, 2000.



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