Religião em Marx
Karl Marx foi um
pensador muito importante para a história da humanidade, pois sua forma de
explicar a economia, sua maneira de pensar nos trabalhadores e sua idealização
de uma sociedade mais justa e igualitária, inspiraram vários líderes políticos
a também compartilharem desse ideal e sensibilizarem-se com a classe
trabalhadora, fazendo-se assim, participantes de forma efetiva desse projeto.
Infelizmente suas
idéias foram mal interpretadas por alguns desses líderes políticos que acabaram
fazendo de algo que seria um objeto de libertação, aquilo que se tronou para
muitos, sinônimo de opressão e supressão da liberdade em todos os âmbitos
(politico, social, etc).
Seu ideal de
liberdade inspira, ainda nos dias de hoje, muitos pensadores a responder
perguntas do tipo: O sistema capitalista terá fim? A opressão do trabalhador
vai continuar? O sistema que promove várias bárbaries, em nome do progresso um
dia vai acabar? Essas são indagações que precisam ser respondidas, pois a cada
dia que passa, o trabalhador, o pobre proletariado está mais oprimido e, de
certa forma, privado de elementos essenciais para sua sobrevivência. Isso sem
contar aqueles que não têm condições de trabalhar e são tratados como escória
da sociedade, como por exemplo, a terça parte da população mundial vive abaixo
da linha da pobreza.
Certamente há
alguns equívocos em relação a alguns aspectos de seu pensamento, porém não
podemos negar que seus apontamentos em relação ao capital deixam claro o modo
com que esse sistema trata tudo e todos, ou seja, simplesmente como mercadorias,
produtos do capital.
Por isso Marx
engloba todos os elementos do conjunto dominante na chamada superestrutura, pelo
simples fato de não romperem com o sistema e nem fazerem o mínimo esforço para
isso. Dentro desse aspecto enquadra-se, segundo o filósofo, a religião, que por
muito tempo serviu (e em alguns lugares ainda serve) como anestesia para o povo
(a grande massa) , que conformados com aquilo que iriam receber em uma vida
vindoura, esquecem-se de lutar pela vida terrestre tornando-se de certa formas
oprimidos. Em outras palavras, a religião que pode ser usada como um
instrumento de libertação, na maioria das vezes coloca-se a serviço das classes
dominantes reproduzindo sua ideologia e se regozijando com as benesses do
poder.
1.Biografia
Karl Marx nasceu em Trier, na Alemanha, aos 5
de maio de 1818. Marx nasceu de uma família de classe média. Sua mãe era judia holandesa e seu pai era
um advogado que teve de se converter ao cristianismo
protestante, devido às restrições impostas à presença de membros de etnia
judaica no serviço público. No ano 1835, com dezessete anos Marx ingressou na Universidade de Bonn para estudar Direito,
porém, no ano seguinte, transferiu-se para a Universidade de Berlim, local em que a
influência de Hegel
ainda era muito forte, mesmo após sua morte no ano de 1831. Naquele local os
interesses de Marx se voltam para a filosofia,
tendo participado ativamente do movimento dos Jovens
Hegelianos. No ano de 1841, doutorou-se em filosofia em Jena, com uma tese sobre
as "Diferenças da filosofia da
natureza em Demócrito e Epicuro".
Nesse mesmo ano, elaborou a ideia de um sistema que combinasse o materialismo
de Ludwig Feuerbach com a dialética de Hegel. Dedicou-se ao jornalismo,
dirigindo ásperas críticas aos governos absolutistas de seu tempo. Em 1842, tornou-se redator-chefe
da Gazeta renana, que posteriormente foi
fechado.
Com o fechamento do jornal pelos censores do
governo prussiano,
em 1843,
Marx emigra para a França, onde conheceu Federich Engels, seu companheiro de idéias
e publicações por toda a vida. Naquele mesmo ano, casou-se com Jenny von Westphalen. Desse casamento,
Marx teve cinco filhos: Franziska, Edgar, Eleanor, Laura e Guido. Franziska,
Edgar e Guido faleceram na infância, certamente pelas péssimas condições
financeiras a que a família estava submetida. Marx já havia sido privado da
oportunidade de dar prosseguimento a uma carreira acadêmica na Alemanha pelo
recrudescimento do absolutismo prussiano, que tornava suas
posições como hegeliano de esquerda inaceitáveis, e, com a Revolução de 1848 e o exílio que se seguiu a
ela, foi obrigado a abandonar o jornalismo na Alemanha e tentar ganhar a vida
na Inglaterra
como um intelectual estrangeiro desconhecido com meios de subsistência
precários, sofrendo. Dessa forma, a sorte comum destinada pela época às pessoas
destituídas de "meios independentes de subsistência", ou seja, viver
de rendas.
Durante a maior
parte de sua vida adulta, sustentou-se com artigos que publicava ocasionalmente
em jornais alemães e estadunidenses, bem como por diversos auxílios
financeiros vindos de seu amigo e colaborador Friedrich
Engels. Tentava angariar rendas publicando livros que analisassem
fatos da história recente, tais como "O 18 Brumário de Luís Bonaparte
", mas obteve pouco retorno com essas empreitadas.
2. Introdução ao pensamento
marxista
2.1
Bases do pensamento de Marx.
Para formular seu pensamento,
Marx se valeu de diversas contribuições que variam desde contribuições do
pensamento dos liberais; cientistas; economistas até contribuições do próprio
Hegel.
No que diz respeito a esquerda
hegeliana, a influência recebida por ele vem da teoria segundo a qual a
religião é uma hipnotização das necessidades, dos desejos e dos ideais do
homem, seguindo a afirmativa de que não foi Deus quem criou o homem, mas sim o
homem quem criou Deus. De Engels e Sant-Simon, veio-lhe a influência da
doutrina na qual o aspecto mais importante da sociedade não é o politico nem o
religioso, mas sim o econômico. Do economista inglês Adam Smith, Marx tirou um
ensinamento muito importante a respeito da instabilidade das leis econômicas,
pois enquanto para Smith as leis da sociedade capitalista de seu tempo eram
leis universais e necessárias, validas para todos os tempos e para todos os
tipos de sociedade, para Marx as leis econômicas da época não são universais,
mas simplesmente leis próprias da sociedade capitalista e consequentemente,
distintas a desaparecer com ela.
Do economista americano Morgan
ele tomou a teoria na qual se conhecendo a situação de uma sociedade, é
possível saber o que ela foi no passado e o que será no futuro. De Charls Darwin
aproveitou a teoria de evolução de tudo o que existe no mundo da natureza e da
história e, finalmente de Hegel herdou a identificação da realidade com a história
e o método dialético.
2.2 Principais pontos do pensamento de Marx
Karl Marx é considerado por
muitos um pensador muito difícil de ser compreendido devido sua vasta produção
e também devida a complexidade de seu pensamento, porém nessa introdução vamos
abordar de forma sucinta alguns daqueles que podem ser considerados como
pilares de seu pensamento.
Começaremos então nossa abordagem
tratando do que Marx chamou de alienação. Economicamente, o capitalismo
alienou, ou seja, separou o trabalhador de seus meios de produção – ferramentas
, matéria-prima, a terra e as máquinas –, que por sua vez se tornaram
propriedade privada do capitalista. Dessa forma o trabalhador, no sistema
capitalista de produção, perdeu o controle do produto de seu trabalho que é
agora apropriado pelo capitalista. Em síntese, a industrialização, a
propriedade privada e o assalariamento separaram o trabalhador dos meios de
produção e do fruto de seu trabalho. Essa é a base da alienação econômica do
homem sob o capital.
Marx ainda afirma que
politicamente o homem se tornou alienado, pois o princípio da
representatividade, base do liberalismo, criou
a ideia de Estado como um órgão político imparcial, capaz de representar
toda a sociedade e dirigi-la através do poder delegado a indivíduos, que na
sociedade burguesa usam esse Estado para representar somente a classe
dominante.
Marx afirma que a filosofia
também passou a criar representações do homem e da sociedade, pois segundo ele
a divisão social do trabalho fez com que a filosofia se tornasse a atividade de
um determinado grupo, de forma a refletir o pensamento desse grupo. Isso fez
com que, por exemplo, o liberalismo se tornasse a filosofia do Estado.
Uma vez alienado, o homem só
pode recuperar sua condição humana através da crítica radical do sistema
econômico, à politica, e à filosofia que o excluíram da participação efetiva na
vida social. Essa crítica radical só se efetiva através da ação politica
consciente transformadora.
Os ideias liberais pregavam uma
igualdade entre os homens política e juridicamente. Marx porém proclamava a
inexistência dessa igualdade que observava o liberalismo, afirmando que as
desigualdades sociais são provocadas pelas relações de produção do sistema
capitalista, que dividem os homens em proprietários e não proprietários dos
meios de produção. As desigualdades seriam a base da formação das classes
sociais.
Há uma relação de exploração
entre a classe dos proprietários, a burguesia, e a dos trabalhadores, o
proletariado, devido à posse privada dos meios de produção que faz com que os
trabalhadores, como forma de sobrevivência, vendam sua força de trabalho ao
empresário capitalista, que se apropria do produto do trabalho desses operários.
Essas relações segundo Marx, sao antagônicas, por tratar de dois interesses
distintos que ao mesmo tempo são complementares, pois uma só existe em relação
à outra. Dessa forma, conclui que a história do homem é a historia da luta de
classes.
No que diz respeito ao materialismo histórico,
Marx apropria-se da dialética hegeliana, que explica a realidade através de
leis supremas, e aplica a concepção materialista segundo a qual não há nenhuma
distinção entre história e realidade, de forma que, a história seria a última
realidade e evolução da matéria em todas as fases, inclusiva a humana. Para
justificar essa afirmativa salienta o papel da economia na existência humana,
que segundo o autor, são as bases de todas as sociedades, chegando ao ponto de
determinar a evolução social e política. Em torno dessa base se ergue a chamada
superestutrura politica e jurídica, à qual correspondem determinadas formas da
consciência social.
A estrutura econômica geral da
sociedade é determinada pela distribuição que está relacionada aos meios de
produção (terreno, ou matéria-prima, instrumento de trabalho e trabalho) de
forma que, o modo que os membros da sociedade se relacionam com meios de
produção constitui a estrutura econômica, que determina por sua vez, o tipo de
estrutura social. Assim, por exemplo, há capitalismo quando alguns patrões têm
a posse de matérias-primas e dos instrumentos de trabalho e outros tem só o
trabalho. Dentro dessa perspectiva, o Estado, a religião, o direito, etc.
representam a superestrutura, que depende da estrutura, que por sua vez depende
da relação dos membros com os meios de produção.
A lei que regula a
transformação dessa estrutura da sociedade tem caráter dialético, pois ela se
funda na oposição entre a evolução da estrutura e a conservação da
superestrutura. Enquanto a superestrutura, beneficiadora das classes
dominantes, tende a conservar-se e resistir ao estímulo da evolução econômica,
a estrutura, ou seja, as relações dos meios de produção, tende sempre a mudar
com a evolução natural dos meios de produção.
Dessa forma, quando chega a
certo ponto, a tensão entre estrutura e superestrutura se torna tão forte que a
superestrutura não consegue mais reprimi-la e é arrastada por ela. Temos então
a revolução que institui violentamente uma nova ordem.
3. Marx e a Religião.
A dificuldade de abordar Deus
e a religião, na concepção de Karl Marx se dá pelo simples fato de o autor não
ter escrito nem uma obra que aborde o tema de forma mais ampla. Frederich
Engels, se interessou mais pelo assunto, publicando inclusive obras que o
abordam, já em relação a Karl Marx há uma maior dificuldade, pelo fato de os
teóricos do marxismo não chegarem a um consenso em relação a concepção do
filosofo.
Não há um consenso entre os
autores em relação a juventude e adolescência do filósofo, pois alguns afirmam
categoricamente que ele era ateu desde a juventude (a grande maioria dos
teóricos marxistas), outros já afirmam que não, como é o caso de Davis
Mclellan. Segundo esse último, o filósofo teria se assumido ateu somente depois
de ter ingressado na academia, e que no período de sua adolescência teria
escrito um texto no qual continha reflexões sobre Deus, a religião, a condição
do homem. Nele teria afirmado que a história, a grande mestra da humanidade, mostrou
que desde a antiguidade a natureza humana sempre procurou elevar-se a uma moral
mais alta. Assim a historia da humanidade ensina-nos a necessidade de união com
Cristo, baseado no evangelho de São João capitulo 15.[1]
Segundo McLellan, nesses
ensaios a explicação de Deus era muito racional, e explicava que o cristianismo
era necessário para a o desenvolvimento moral pleno da humanidade. Marx tinha
uma concepção de um Deus deísta muito distante e sem colorido[2]
Muitos ainda afirmam que por ser de
ascendência judia, Marx lia os profetas e admirava a a atuação desses em suas
respectivas sociedades denunciado as injustiças sociais, a opressão, entre
outros. Possivelmente, deriva daí a influencia bíblica do marxismo, como
denuncia da exploração, ou seja, um profetismo. Há ainda uma afirmação de haver
influências do Novo Testamento na vida de Marx e que o comunismo idealizado por
ele teria, além das inspirações veterotestamentárias, inspirações no Novo
Testamento, principalmente no chamado “Cristianismo Primitivo” narrado nos Atos
dos Apóstolos.
A concepção de Marx em relação
a religião e Deus vai mudando ao passo em que ele começa a ter contato com os
jovens hegelianos e vai debatendo assuntos concernentes a esse tema. Em sua tese
de doutorado teria se declarado ateu. Com o avançar dos estudos, passa a conceber
a religião como uma das tantas superestruturas que acompanham a estrutura econômica.
Porém diversamente das outras superestruturas, indispensáveis a qualquer tipo
de sociedade, a superestrutura religiosa tinha uma conotação especial devido ao
fato de estar destinada a desaparecer. Essa afirmação se dá, por que Marx
considera sua função como provisória, e sendo assim, ela oferece uma ilusão
necessária para compensar o sofrimento, ou outras formas de vida insuportáveis
e de fornecer uma explicação fantástica da realidade em lugar da verdadeira,
que seria dada pela ciência.
Na realização plena do homem
essa religião perderia seu papel, pois não haveria espaço para explicações
não-cientificas da realidade, nem tampouco, perspectivas de uma vida melhor
depois da morte, ou então num reino celestial, pois tudo que o homem precisaria
para ser feliz se encontraria na terra e
seria proporcionado pela ciência, pela socialização do capital, pelo fim das
desigualdades e da exploração.
Seu fundamento da critica
religiosa, está na afirmação de que o homem que faz a religião, e não a religião
faz o homem. Dessa forma, a religião seria a consciência do homem que não
adquiriu ou que perdeu de novo a si mesmo. Na afirmação de Marx, o homem é o
mundo do homem, o Estado, a sociedade e não um ser abstrato, isolado do mundo.
Esse Estado, essa sociedade produzem a religião. A religião é teoria geral
desse mundo, sua lógica em forma popular, sua fundamental razão de consolação e
de justificação. Ela é a realização fantasista da essência humana, já que a
essência humana não tem uma verdadeira realidade.
Sua critica em relação à
religião dava-se pelo fato de essa servir como alienante, ou seja, dela não
motivar o homem a transformar a realidade a sua volta, pelo simples fato de
receber uma bonificação numa vida póstuma, ou então, de herdar o “Reino dos céus”
e tratar as coisas terrestres, materiais, como secundarias, por isso tem-se sua
celebre frase “A religião é o ópio do povo”, pelo fato de essa ideologia que é
manipulada pelo Estado e reproduzida pela religião, servir como algo que não
motiva o trabalhador, explorado, a querer mudar sua situação.
Outra crítica feita a
religião, é que o clero, na maioria das vezes atuava como explorador, ao lado
das classes dominantes servindo como um sustentáculo de sua ideologia, ajudando
a reproduzí-la e muitas vezes enriquecendo-se as custas dos trabalhadores. Isso,
de forma que, tornavam as críticas do autor ainda mais veementes e fizeram com
que esse não se simpatizasse com a ideia de religião.
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