54 anos sem Malcom X


Eu era apenas o “neguin” que gostava de funk e começou a ouvir um grupo de RAP. Um tal de Racionais Mc´s. Grupo de São Paulo. São Paulo e Rio sempre tiveram disputas inúmeras. Eu era do funk, mas gostei do RAP. Raio X do Brasil era o nome do CD. Na pauta: negritude, racismo, consciência negra e resistência. Em uma das letras falava-se de Malcom X. Eu nem sabia quem era.

2008 foi um ano de muita mudança na minha vida. Pela primeira vez eu saia de casa. Fui morar em São Paulo (centro do mundo. Tudo passa por São Paulo). A militância me identificou. A consciência foi despertada. Eu não era preto - pensava. Num encontro sobre negritude um irmão enquadrou. “Esse cara não é preto!”. O líder começou a aula ali... com uma frase que eu nunca esquecerei...
“Existem tons de negro. Esse cara é negro. Olha os traços negroides. Não confunda melanina com negritude. E seguiu o debate”. Que aula!

Falou-se muito em Malcom X. Eu não fazia a mínima, mas fui atrás. Em minha companhia, meu melhor amigo: Daniel Inácio. Local: Praça da Sé. Sebo do Messias. A tão disputada biografia estava em minhas mãos. Era uma sexta-feira. Comecei a ler o livro sábado pela manhã. Li quase tudo. O restante li no domingo. Impacto. Essa foi a palavra.

Malcom Little me ensinou muita coisa. A militância. A negritude. A consciência. Nunca me identifiquei tanto com uma pessoa como me identifiquei com Malcom. A primeira biografia foi a de Alex Halley. Livro espetacular. Depois li a do Manning Marable.

Eu ia descobrir muito mais coisa em comum com Malcom. Eu e ele tivemos nossa consciência negra despertada pela religião. Eu e ele (ele mais do que eu) fomos notáveis em nosso campo religioso. Eu e ele passamos a ser personas non gratas em nosso meio religioso. Eu e ele descobrimos canalhices e desmandos de nossos líderes religiosos. Eu e ele nos identificamos com a revolução.

O final de Malcom foi violento. Ele foi assassinado. Eu também fui. Ele fisicamente. Eu, em minha reputação.

- As coisas mudaram, Malcom. No seu tempo eles matavam. Hoje eles matam e deixam o corpo vivo para agonizar.

Mas como diz a letra do famoso RAP. “a fúria negra ressuscita outra vez”, eu ressuscito com ela. Na bagagem a inegociável consciência negra; no coração o desejo da igualdade; na mente o ideal pela justiça.

Malcom Little, Malcom X, Al Hajj Malik Al-Shabazz o mundo é menos preto sem você. Obrigado por tudo, sua vida ainda me inspira.

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