Inserção histórica do protestantismo no Brasil
O tema dos evangélicos
e protestantes em geral ganhou notoriedade novamente após o anúncio da pastora
Damares como ministra do governo Bolsonaro. Desde então pessoas dos mais
diversos segmentos têm tentado entender a relação entre a inserção do
protestantismo no Brasil, a política e sociedade.
Podemos dizer que a
inserção protestante no Brasil se deu em diferentes momentos históricos. Os
estudiosos do pensamento cristão dividem em duas grandes matrizes. A primeira é
conhecida como protestantismo de imigração e data de meados do século XVI
quando os huguenotes franceses sobre a liderança de Villegagnon tentaram dominar
o litoral do Rio de Janeiro e iniciar sua colonização naquela parte do Brasil.
As comunidades de
imigrantes protestantes que aqui iam se instalando tinha apoio religioso, mas
sem cunho proselitista Naquele momento se entendia a expansão do evangelho por
meio de valores cidadãos. Como educação, cultura, cidadania e desenvolvimento.
Foi sob essa
mentalidade que Nassau e sua corte desembarcou em Recife e desenvolveu a cidade
por meio da cultura, arquitetura e economia. Vale lembrar que todos eram
presbiterianos e que tinham tais valores como base da inserção cidadã. Ademais
o protestantismo histórico, oriundo da Reforma sempre primou pela educação e
desenvolvimento integral e salutar da cidade e da vida da comunidade em si.
Essa leva chamada de
imigração sedimentou-se com o tempo, mas não chegou a se expandir com notoriedade,
cabendo isso aos chamados protestantes de missão. Estes chegaram ao Brasil na
segunda metade do século XIX e impulsionaram o crescimento e a divulgação da
mensagem protestante de viés intimista, espiritualista, anti-católico e (por
que não) capitalista em terras brasileiras.
Dom Pedro II era um
homem muito culto e erudito. Em sua corte recebeu maçons europeus protestantes.
Aliás, a maçonaria no século XIX funcionou como agencia divulgadora do
protestantismo no Brasil. Talvez pouco pela mensagem e muito pelo interesse nos
ideais que essa fé pregava.
O protestantismo de
missão além dos valores já mencionados foi grande divulgador do ideal
republicano, educação e entusiasta do desenvolvimentismo capitalista, o que em
parte seduziu muitas pessoas da corte de Dom Pedro II além de ajudar na
formação e ampliação cultural e educacional no Brasil. Também se empenhou em
causas humanitárias como abolição da escravidão e direitos humanos. Estava na
trincheira frontal das lutas políticas.
Houve ainda o terceiro
momento em que os pentecostais chegaram ao Brasil. Esse grupo aportou aqui já
no século XX. Duas décadas depois da proclamação de república. Naquele tempo o
Brasil começava lentamente e desenvolver sua indústria. As massas pobres,
incultas e trabalhadoras foram seduzidas pela mensagem simples e resignada do
pentecostalismo, que – naquele momento – preocupava-se mais com o destino final
dos seres humanos do que com suas condições políticas.
Esse grupo vai dominar
o cenário religioso e ganhar notoriedade na década de 1950, quando muitos
pregadores começaram a se destacar em rádios de ampla difusão ao redor do
Brasil. Destaque para Manoel de Melo, Davi Miranda e Cecílio de Carvalho.
Havia inserções
pontuais de alguns nomes na política institucional, mas sempre com ideias
cidadãos voltados para os direitos humanos e educação, na maioria das vezes.
Não havia nenhum tom proselitista e dominador.
Já no final da década
de 1960 e início de 1970 houve a explosão do fenômeno neo-pentecostal. Uma nova
vertente da fé cristã que pautava-se na luta contra espíritos malignos,
prosperidade, ascensão financeira e a proposta de tomar os meios de comunicação
para evangelizar a população. Tanto os
neo-pentecostais, quanto os pentecostais “clássicos” passaram a almejar espaços
públicos e canais de televisão e rádio. Somou-se a isso a vontade e desejo de
evangelizar a população por meio dos vários espaços, inclusive institucionais.
Na última década esse
cresceu e passou a agregar diversas vertentes do cristianismos e identificou um
inimigo comum: o comunismo. Não somente as vertentes pentecostais e neo, mas
várias outras passaram a almejar o poder e o domínio dos espaços sociais.
Na contra-corrente
dessa vertente tem a ala progressista das igrejas evangélicas identificadas com
causas sociais e humanitárias. Elas também são amplas, mas merece destaque a
frente liderada, entre outras pessoas, pelo pastor e ativista social Ariovaldo
Ramos, que faz críticas às posições adotadas pela chamada “bancada evangélica”
e se coloca ao lado das minorias.
Como elemento
ideológico e subjetivo a religião passa a figurar no terreno da disputa de
ideias e os confrontos são inevitáveis. Cabe sempre ponderar que não estão
todos do mesmo lado e nem pensam de forma semelhante.
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