Afinal, de que lado o Estado está?
6 de julho de 1831. O
Estado brasileiro aprova uma lei que permite armar a população para se defender
dos tumultos e perigos eventuais que se podia sofrer devido ao período alvorotado
que o Brasil passava - A bem da verdade essa lei privilegiava os setores da
classe alta da população. Haviam alguns requisitos a serem preenchidos dentre
os quais se destacava a renda anual. À época a empreitada ficou a encargo do
ministério da justiça que tinha Feijó a frente dos trabalhos.
Desse breve relato
pode-se tirar algumas conclusões. Primeiro. Não é a primeira vez que o Estado
brasileiro adota a repressão armada para reprimir a violência a acabar com o
clima de insegurança. Como todo o organismo de manutenção e perpetuação do
poder o Estado é repressivo e sua política se faz sentir sobretudo nos corpos
dos despossuídos e insurgentes contra o sistema.O contexto do século
XIX era de contestação e de levantes populares que reivindicavam melhores
condições de sobrevivência. A isso o Estado respondeu com repressão, armando o
cidadão de bem e não dialogando com quem, de fato, necessitava.
A segunda conclusão que
se pode tirar desse episódio é que a justiça e o Estado tendem a se posicionar
em favor de grupos que detém o poder financeiro. Não bastava ser cidadão de bem
– sem antecedentes criminais – mas ter renda comprovada, isto é, pertencer a
determinada classe social.
A quem se destinava a
repressão? Escravos, pobres, mulatos e gente do “povo”, em geral. É mister
salientar que uma das questões que a independência manteve incólume foi a
escravidão. Enquanto o mundo inteiro buscava mercado consumidor e via a
escravidão como algo nociva ao desenvolvimento capitalista, o Brasil só foi
aboli-la no final do século depois de inúmeras pressões.
15 de janeiro de 2019.
O chefe do executivo brasileiro assina um decreto que facilita o porte de arma
ao homem de bem. Os argumentos? Combater a violência, preservar a propriedade e
os inocentes. Afinal, não é justo trabalhar a vida inteira e ser roubado. Assim
como não era justo no século XIX criar escravos, pagar por eles e deixá-los ir
de mãos beijadas. Assim como não era justa a reivindicação por menos impostos,
assim como não eram justas as balbúrdias cometidas em nome da liberdade.
Quem tem condições de
comprar uma arma no Brasil? Certamente é alguém que tem certeza que sua
dispensa chega ao final do mês; alguém que não precisa decidir se o filho
continua na escola ou entra no trabalho informal para ajudar na renda familiar.
É alguém que tem propriedade e precisa defende-la. Pessoas que vivem bem e não
matam um leão por dia para sobreviver.
O alvo dessa política?
Os mesmos pobres, negros e deserdados do sistema; órfãos do Estado, não
contemplados pela justiça e sistema burguês.
Feijó. Bolsonaro. Tanto
faz. O Estado está sempre do mesmo lado.
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