Bolsonarismo



Geralmente quando se estuda o populismo a primeira tendência é situá-lo na categoria de esquerda. Muita gente fez isso com Getúlio Vargas no Brasil; Perón na Argentina e Chávez na Venezuela. É farta a literatura que associa populismo com assistencialismo e esse à esquerda.

Na contramão dessa perspectiva destacam-se os estudos de Ernest Laclau. Filósofo argentino que viveu muitos anos na Itália. Sua perspectiva diferencia-se do marxismo ortodoxo por se desvencilhar do que denomina de “economicismo” – análise excessiva por meio de categorias econômicas.

Laclau é conhecido por situar a análise política em categorias que vão desde a análise sociológica à linguagem. Em relação a esta última cunhou um axioma preciso e, ao mesmo tempo, emblemático: “o povo é um significante vazio”.

Sendo o povo um significante vazio está a espera de um significado. E isso pode ser tanto à direita, quanto à esquerda.

Tomando por base as premissas de Laclau podemos identificar em Bolsonaro um significado que preencheu a expectativa de um povo que anelava por uma proposta que lhe preenchesse a subjetividade. Inegavelmente seu apelo às massas e a passividade com que elas se correspondem com ele o colocam como um populista.

Bolsonaro é um líder personalista que fala às massas despertando seus instintos mais primitivos. Quem nunca se revoltou ao ver um crime? Quem nunca criticou as leis brasileiras? Quem duvida que o país precisa de mais segurança? Quem não quer proteger a família?

Bolsonaro preenche o vazio de significado de um povo com bravatas e linguagem popular. Ao contrário de Lula, que propôs “matar a fome do povo” e “fazer o povo comprar”. Bolsonaro prega a segurança, a defesa por meio do armamento da população e a abertura da economia ao capital internacional.

Tais pautas estão alinhadas com um pensamento, sobretudo, de direita (republicana nos EUA). No Brasil nunca houve um apelo a esse sentimento e o preenchimento dessa pauta – nem Juscelino e Collor conseguiram essa façanha. Bolsonaro preencheu a lacuna. Sua proposta não é antiga, mas veio sendo construída ao longo dos anos.

O político passou por diversas fases. Inicialmente era militarista e defendia a causa militar. Passou a nacionalista e agregou à sua imagem o liberalismo. Somadas todas essas bandeiras tem-se um ideário mais à direita do que à esquerda.

Com o crescimento do conservadorismo mundial e da direita de forma geral, Bolsonaro aproveitou a “carruagem da história” e colocou-se como o arquétipo da direita que o Brasil pedia.

A mescla de personalismo; linguagem popular e promessas de solução imediata de necessidades da população; abertura da economia aos interesses nacionais; conservadorismo moral e anti-comunismo fazem de Bolsonaro um populista de direita.

Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

Comentários