Brizola - biografia





Quem me conhece de perto sabe que há muito tenho um hobby que me acompanha e pelo qual sou apaixonado: a leitura de biografias. Talvez seja meu lado cronista, ensaísta e jornalístico – ainda que inconsciente – aflorando. Se o axioma da psicanálise de que o inconsciente nunca nos trai for verdadeiro, explica-se facilmente meu gosto e paixão por biografias.

Assisti a alguns documentários sobre a vida do lendário Leonel de Moura Brizola. Sua vida, trajetória, militância e galhardia me despertam muita atenção. Há detalhes em sua vida que são intrigantes. Seu contato com a Igreja Metodista, sua ida para Porto Alegre, sua resistência ao regime, a expropriação e nacionalização de empresas americanas no período como govenador no Rio Grande do Sul são alguns dentre tantos episódios.

Confesso que quando iniciei a leitura do livro escrito por Trajano e Brigagão tinha a esperança de que as partes pelas quais mais me chamavam a atenção seriam retradadas, mas para meu desalento o recorte é de fins de 1960 focando no exílio e na volta para o Brasil em 1977 ao período em que Brizola foi eleito para o governo do Rio de Janeiro em 1982.

Os autores centram-se na fomentação e organização da esquerda no exílio e do esforço de Brizola para reorganizar o trabalhismo no Brasil. São suprimidos os episódios de luta armada pelo MNR (Movimento Nacional Revolucionário); o apoio que obteve de Fidel, suas incursões e organização da guerrilha no Brasil e outros episódios marcantes da trajetória do político gaúcho.

A redação confere, sim, tons “do caudilhismo de Brizola”, mas enfatiza, sobretudo, sua militância como intelectual orgânico. A leitura é sempre prazerosa e detalha com minúcias determinados episódios que somente sabe quem viveu de perto o calor das emoções.

A impressão que se tem é que a redação tenta elevar o lado intelectual e militante de Brizola e pouco detalhar sobre sua personalidade intempestiva. Obviamente é uma tarefa difícil, mas a medida do possível os redatores fazem isso com grande maestria.

Há dubiedade no que diz respeito a identidade do trabalhismo que Brizola advogava. Sabe-se que o gaúcho era um nacionalista costumas, entretanto, o socialismo do século XX foi por excelência internacionalista. A aproximação entre Mário Soares e Brizola significou o que? Que Brizola flertou com o socialismo? Vejamos uma passagem:

“Daí em diante, e durante toda a sua permanência na Europa até sua volta ao Brasil, Mário Soares foi o principal amigo, apoiador e articulador da entrada do trabalhismo na cadeira "ainda vazia" da Internacional Socialista.” (BRIGAGÃO; TRAJANO, 2015, p.50).

Afinal o trabalhismo brizolista era socialista?

A trama do livro narra encontros com Miguel Arraes, Jango e outras lideranças políticas exiladas na Europa. Havia contatos com Tancredo Neves, Ulysses Guimarães e outros. Pelos nomes observa-se a pluralidade das alianças que Brizola queria tecer, mas qual era a identidade do partido?

Pela leitura do livro, em consonância com a história, o trabalhismo brizolista e o PDT em si, tendiam a ser um partido fundado em torno de uma figura lendária mais do que um projeto, possuindo um ideário, etc.

Por mais que haja a tentativa sagaz dos autores insistirem em um Brizola intelectual, teórico e orgânico, observa-se a ausência de uma teoria que subsidie a ideologia trabalhista do PDT. De fato é difícil observar isso.

O livro é interessante. Trata-se objetivamente de uma biografia. Entretanto, fica patente a ausência de uma teoria trabalhista.

Arrisco-me a sugerir que Brizola estava muito mais para Marighella do que para Lênin. Para o primeiro a ação vazia a vanguarda e as teorias eram dispensáveis. Já para o segundo a revolução se dá sustentada pela teoria.

É um bom livro. Seja para criticar ou simplesmente apreciar é sempre bom ler biografias.

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