Metodismo latino-americano através de um olhar crítico
As nuanças do metodismo têm sua origem já na mudança contínua de
contexto: Inglaterra – Estados Unidos – América Latina. As mudanças e
adaptações do metodismo têm relação com o diálogo que foi estabelecido com os
diferentes pensamentos com que ele teve contato. Como exemplo, pode-se citar o
diálogo com o evangelho social e posteriormente com a teologia
latino-americana.
Wesley e sua obra não foram muito conhecidos no contexto metodista
norte-americano, salvo alguns sermões e poucos dados biográficos. Nesse sentido,
houve certa controvérsia, sobretudo, no tocante aos principais conceitos do
metodismo. Um deles diz respeito à questão da santidade bíblica. Aspectos da espiritualidade
sofreram adaptações e foram adornados pelo puritanismo e pietismo. Houve pontos
de discordância no que diz respeito à escravidão e ao episcopado, gerando
discussões e culminando com na dissidência de grupos sob alegação de
incoerência de determinadas posturas com os pressupostos da santidade bíblica
wesleyana.
A orientação anti-católica constitui-se também em um dos pontos
distorcionantes do metodismo norte-americano e teve suas consequências na
implementação do metodismo latino-americano. De certo, Wesley pregou contra
diversos erros do catolicismo romano, sobretudo, aqueles que foram denunciados
pelas reformas protestante e anglicana. Contudo, não se pode negar a presença
de diversos elementos católicos na teologia wesleyana.
Os norte-americanos não sofreram perseguição católica, nem embates
teológicos, como foi o caso de muitos protestantes europeus, porém o ideário de
levar a missão adiante e o ímpeto da pregação do evangelho a toda criatura, deu
margem a discriminação dos grupos não protestantes presentes na nos Estados
Unidos, isso incluiu os católicos.
Na América Latina, grande parte
dessas relações estava ligada à reação ao catolicismo conservador que se
impunha no continente. Devido à posição anti-ecumênica e reacionária dos
católicos foi inevitável a hostilidade.
A expressão de Wesley: “minha paróquia é o mundo”, foi alvo de distorção
por parte dos norte-americanos. O ideário do destino manifesto, que concebia a
expansão e o progresso como benção divina serviram para justificar a conquista
do oeste.
Inicialmente, tanto no metodismo inglês, como no americano, as camadas
sociais que mais aderiam, eram as camadas sociais mais baixas da população,
porém com o passar dos anos a igreja foi se configurando em uma igreja de
classe média. Na América Latina, a Igreja Metodista ocupou as principais
cidades e portos, concentrando sua ação evangelizadora nos imigrantes,
principalmente europeus.
A educação foi uma das bandeiras pelo qual se procurou trabalhar a
evangelização, tanto em escolinhas, quanto em colégios. Aos poucos
o alvo passou a ser as mulheres. Tal ação se deu através da junta feminina.
Como se tratava de educação particular, a educação ganhou perfil elitista,
destoando assim, do principio wesleyano de educar os pobres.
Desde o começo do trabalho metodista na América Latina, houve
distanciamentos dos objetivos propostos por Wesley. O povo pobre e oprimido,
por exemplo, não foi prioridade como na Inglaterra. As distorções começaram nos
Estados Unidos e se estenderam para a América Latina.
O metodismo que chegou à América Latina via Estados Unidos, foi muito
diferente do que havia sido proposto por Wesley. Isso fica evidente nos vários
aspectos pontuados pelo autor e as implicações que isso teve, sobretudo na
América Latina.
Quando lemos nas histórias que Wesley estava ao lado do povo; defendeu os
mineiros; acolheu e deu condições de dignidade aos pobres, percebemos o quão
distante estamos distante daquilo que foi inicialmente proposto.
Até o presente momento nunca vi,
nem tive notícias de ações em favor dos menos favorecidos, seja por parte de um
pastor metodista, ou seja, por parte de alguma igreja, ancoradas no legado
wesleyano. O que se tem são praticas copiadas de outros modelos com alguns
elementos que lembram Wesley.
No tocante a teologia pastoral a coisa piora, pois não há práxis que
favoreça os pobres da forma com que Wesley enfatizava. No máximo o que se encontra
nas igrejas é um assistencialismo ultrapassado. Os poucos que se dizem optar preferencialmente
pelos pobres são incapazes de
comprometer com alguma situação que lhes tire da zona de conforto; ameace suas
funções e benesses adquiridas na estrutura da igreja, ou confronte seu discurso
de classe média intelectual.
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