Por uma teologia brasileira


Se alguém concorda que o papel da teologia é só falar sobre Deus está muito enganado. A teologia trata também do cosmos, do mundo do trabalho e das vicissitudes que assolam do dia-a-dia da sociedade. Desse dilema emerge a premência de se pensar uma teologia que realmente conecte-se com a realidade brasileira.

Vez por outra o Brasil enfrenta crises. A primeira manifestação das igrejas é: “vamos orar pelo Brasil”. Concordo que isso seja importante, mas e o que mais? Diante de um legado milenar da igreja com inúmeras contribuições é isso que temos a propor? Oração?

As teologias latino-americanas (da Libertação e Missão Integral) são tidas como progressistas e de esquerda em muitos círculos e nem sequer podem ser trazidas ao debate. Só o nome já assusta. Sem contar que elas estão muito mais ligadas aos eventos do século XX do que a realidade do século XXI – embora não estejam ultrapassadas.

A questão é: o que se produz de novidade? Como pensar uma teologia que conecte a igreja à realidade brasileira? Esse é o ponto. Muito se ouve sobre oração, jejum, etc. Há comoção com realidades pontuais e dilemas que levam à população a ser solidária, mas isso não chega a ser um sistema que tenha um pensamento que sustente, isto é, uma práxis. Fica tudo no voluntarismo.

Talvez seja o momento de romper com esse espiritualismo e começar a dialogar – e isso pressupõe ouvir quem pensa diferente – com a sociedade para haja, de fato, uma construção coletiva de uma proposta teológica, como ocorreu, por exemplo, com a Teologia de Libertação na década de 1950 e 1960.

Todo avivamento na história da igreja teve seu viés de transformação social. Esse negócio de que “Jesus é a solução”, “temos que viver o evangelho”, “precisamos ser luz” é legal como frase de efeito, mas precisamos sair desse blá-blá-blá e produzir mudanças concretas a partir de uma formulação teológica concisa e que responda às demandas do nosso tempo.

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