Apocalipse 12. A mulher e o dragão


Apocalipse 12
A mulher e o dragão
Luis Fernando Carvalho

Estrutura do texto
Do céu à terra (12, 1-18);

a)                  Confronto no céu: uma mulher enfrenta o mostro (12, 1-6);

b)                 Guerra no céu: Satanás é arremessado do céu à terra (12, 7-9);

c)    Centro: Canto da vitória: Agora a salvação já chegou (12, 10-11);

b’)   Consequência da guerra na terra: alegria no céu: terror na terra (12, 12);

a’)   Perseguição na terra: mostro persegue a mulher (12, 13-18);

a)                 Confronto no céu: uma mulher enfrenta o mostro (12, 1-6);

O capítulo 12 de Apocalipse se utiliza de símbolos. Temos no texto dois símbolos iniciais que tratam da realidade vivida por João na ilha de Patmos, que são aplicada à igreja do Senhor Jesus. Os símbolos inicialmente mostrados são: a mulher e o mostro. Os dois aparecem primeiro no céu. A mulher é vestida de sol e o mostro é adornado com chifres. Depois na terra.
Há uma série de símbolos envolvem esse texto. Por exemplo, o cosmos coroa essa mulher. Interessante é notar que a lua está debaixo dos seus pés. Lua é símbolo da ideologia babilônica. O império babilônico cultuava os astros como lua e estrelas. Nota-se aqui um governo cósmico e autoridade pantocrática à mulher que gera o menino.
A coroa de doze estrelas representa o povo de Deus exemplificado nos doze patriarcas da antiga aliança e nos doze apóstolos dos tempos da nova aliança. O número doze é uma descrição do povo de Deus.
A mulher representa a vida: está gravida a ponto de dar a luz a um filho varão. O monstro representa a morte. O tempo todo tenta tragar a mulher para que essa não gere um filho. Essas duas figuras representam, então, a vida e a morte.
Há ainda um paralelismo da figura de mulher com Israel (Is 54.3-6; Jr 31.32; Ez 16.32; Os 2.16). Mas parece pouco provável que a mulher seja Israel embora se possa fazer a ilação entre sua formação como geradora de vida e gestadora do menino-varão que regerá as nações. Opta-se por interpretar a mulher como a história (da igreja e “a” igreja) por ser esta um substantivo feminino e no hebraico a vida e as forças criadoras são descritas sempre no feminino. 
Sete cabeças e dez chifres. Esses podem ser governos. Há inúmeras dificuldades em precisar alguma definição, pois pode-se incorrer em equívocos acabando por não dar a devida importância ao texto. As imagens podem ser interpretadas como simbólicas, uma vez que, o número sete significa completude, e dez é o número de plenitude na estrutura decimal e também aplicadas historicamente entendendo as sete cabeças como os impérios 1 – Egito, 2 – Assíria, 3 – Babilônia, 4 – Medo-persa, 5 – Greco-macedônico, 6 – Império Romano e 7 – Perseguição atual. E os dez chifres como os governantes romanos Tibério, Calígula, Cláudio, Nero, Vespasiano, Tito, Diminiciano, Nerva, Trajano e Adriano.
 Os paralelos que nos ajudam a compreender essa passagem são todos extraídos no Antigo Testamento. Neles Israel é sempre representado como uma mulher (Is. 66,5-9) e a ressurreição como parto (Is. 26, 17-19). Da mesma maneira os monstros são retratados como figuras malignas (Is. 27,1); (Jó 40,15); (Sl. 89,1); (Am. 9,3). No Novo Testamento a igreja (povo de Deus) é sempre retratada como mulher ou ainda noiva de Cristo.
Ao longo da história os símbolos foram identificados com pessoas e líderes. Antíoco Epifanes IV foi chamado de besta (Sl. 74, 19); faraó, o dragão (Is. 51, 9-10); o rei da Babilônia também foi identificado como um dragão ( Jr. 51,34). Em (Gn. 3,15) é retratada a imagem da serpente como o diabo, que foi esmagado por Jesus.
O apocalipse mostra esses símbolos retratando realidades históricas conhecidas. Em 12,5 temos a mulher dando a luz a um filho. Essa é uma parte difícil de ser interpretada e que tem causado muita polêmica no meio cristão. O que isso, de fato, significa? Muitos afirmam que essa passagem diz respeito ao nascimento de Jesus em Belém ou ainda o arrebatamento da igreja, mas há um detalhe no texto que impede essa passagem de ser interpretada dessa forma, pois o menino é arrebatado para Deus. Então, pode se concluir que essa passagem não fala do nascimento de Cristo. Mas o qual seria o sentido correto da interpretação?
O melhor a se pensar sobre essa passagem é que ela diz respeito à formação do novo homem pela ressurreição de Cristo (1 Tm. 3,16) e que a igreja nasce no Gólgota, com a morte e ressurreição de Cristo. As dores mencionadas estão ligadas ao sofrimento de Cristo pelos pecados do mundo proporcionando o nascimento da igreja. Jesus mesmo compara sua cruz e ressurreição às dores de parto de uma mulher (Jo. 16, 20-22). Jesus foi constituído com poder na ressurreição (Rm. 1,4). Aplica-se ainda outros textos como, por exemplo, o Salmo 2,7 sinalizando a coroação de Jesus como rei, que em concordância como (At.13,13) apontam para a ressurreição como a completude a obra de Deus em Cristo.
Ainda sobre o arrebatamento de Jesus descrito por João é necessário dizer que o enfoque no ministério até a ascensão se dá por alguns motivos. Primeiro, João chama a atenção para a derrota de Satanás no nascimento e ascensão de Jesus. Depois, João conecta a ascensão de Jesus com seu governo sobre as nações. Em terceiro João usa a ascensão como um prelúdio ao próximo segmento, a saber, guerra no céu (vs. 7-9). Por fim, ele menciona dois fatos redentores primordiais: focaliza o nascimento de Jesus na terra, que inclui seu ministério e sua ascensão ao céu, que inclui seu governo de justiça e equidade.
Existem outros textos proféticos sobre o governo messiânico do rei-menino. Aqui estão o cumprimento das profecias messiânicas que predizem a vinda do Cristo (Is 7.14; 66.7). Na plenitude dos tempos a mulher deu à luz seu Filho, o messias. Jesus governa sobre os incrédulos com uma vara de ferro, a qual ele aplica a todos quantos se insurgem contra ele. Ele é o Pastor que cuida de suas ovelhas e as protege do mal.
Em (Ap. 12, 5) há comparação com o (Sl.2). A mesma coisa acontece com (At.19,15) em que Jesus recebe o poder para reger as nações com vara de ferro, conforme também retrará (Ap. 2, 26-27). Um detalhe que chama atenção é que em (Ap. 12, 1-6) o verbo nascer aparece quatro vezes e duas vezes a palavra filho. Isso sem dúvidas indica que o projeto de Jesus retratado nos evangelhos é mostrado em Apocalipse é para que a igreja triunfe com poder e autoridade sobre o mal.
Fuga para o deserto. O deserto na Bíblia é e tem sido visto como lugar de preparação para os propósitos de Deus. A imagem do deserto evoca o relato da permanência de Israel por quarenta anos na península do Sinai (Dt 8.2-4), a fuga de Elias para esse mesmo deserto (l Rs 19.3-8) e a peregrinação de João Batista no deserto da Judéia (Lc 1.80). Paulo também gastou tempo em um deserto, o da Arábia (Gl 1.17, 18).
O período também se mostra como emblemático, mas é simbólico, uma vez que, o número 1260 aparece diversas vezes no texto do Apocalipse. Se for dividido por 30 (fração correspondente a um mês) o número é 42. Esse é o número exato dos acampamentos de Israel até a chagada definitiva na terra de Canaã para possuí-la (cf. Nm 33, 5-49). Mais uma vez trata-se de um numero simbólico referindo-se a um tempo de preparação para o cumprimento da vontade de Deus.

b)                 Guerra no céu: Satanás é arremessado do céu à terra (12, 7-9);
Há quem diga que através de toda a História até a ascensão de Jesus, Satanás podia comparecer à presença de Deus (Jó 1.6; 2.1). Satanás, cujo nome significa “o acusador”, pôde inclusive acusar o sumo sacerdote Josué na presença de Deus, porém o Senhor o repreendeu (Zc 3.1, 2). Além disso, Jesus disse aos setenta e dois discípulos que regressaram de sua missão designada: “Eu vi Satanás cair do céu como relâmpago” (Lc 10.18; ver Jo 12.31). Em outros termos, a Satanás não tinha sido ainda negado acesso à presença de Deus, porém podia acusar o povo de Deus dia e noite (v. 10).
Quando Jesus completou sua obra medianeira na terra, subiu ao céu e tomou assento à mão direita de Deus. Sua entrada no céu tornou impossível a Satanás comparecer diante de Deus para acusar os santos. Jesus assumiu o papel de advogado junto ao Pai (lJo 2.1). Ele pagou o preço pela liberdade de seu povo, e como resultado Satanás tornou-se incapaz de apresentar acusações caluniosas contra o povo de Deus (ver Rm 8.34; Jd 9).16 Assim, a Satanás e a suas hostes foi negado um lugar na presença do Onipotente.
Entretanto essa parece ser uma interpretação muito arrojada e arriscada, pois dizer que o acesso de Satanás foi vetado após a e ascensão do senhor Jesus parece não encontrar amparo suficiente nas escrituras. Por isso preferimos adotar uma posição mais cautelosa e entender que houve tal batalha mencionada e que a mesma se fez em esferas transcendentais. Podendo ser, inclusive, interpretadas por um viés ideológico.
Aparecem outras figuras no texto. Miguel e os anjos lutam contra o mostro. A figura de Miguel é tomada de (Dn. 10, 13-21). Miguel e seus anjos representam a força espiritual do povo de Deus, conforme (Ex. 23, 20-21) em que há um combate contra o mal. Essa guerra é espiritual e é travada nas esferas celestiais (Ef. 6,10-20). Quem vence? Miguel e seus anjos. Isso mostra que a primeira derrota do diabo foi no céu, depois disso ele foi arremessado à terra.
O nome Miguel significa “Quem é como Deus?” Como um dos arcanjos, ele deflagra guerra contra o arcanjo Satanás, que quer ser como Deus. Miguel é mencionado no Antigo Testamento como um príncipe e protetor do povo de Deus (Dn 10.13, 21; 12.1). Seu aparecimento é muito forte na literatura apocalíptica de Daniel. Sua redação de liga a um estilo de escrita que se utiliza de elementos simbólicos para narras fatos reais. O interessante é notar e pontuar que o diabo derrotado pelos exércitos de Deus.
Dragão, o diabo, Satanás, a antiga serpente. Facilmente pode se identificar essa figura, mas o que ela representa, de fato? Quando se fala em serpente logo se faz a ligação entre ela e o episódio do Éden em que Satanás chegou-se a Eva no Paraíso na forma de serpente para enganá-la (Gn 3.1; lTm 2.14). Mas por trás dessa figura há ainda um sentido maior. O monstro tem muita força e sua força transcende a compreensão e poderes humanos. Sendo assim a interpretação que se faz é que diz respeito a uma ideologia imperial dominadora e sedutora, assim como ocorreu no Éden e em diversos momentos de Israel. A dominação sedutora e dominadora tenta destruir o projeto de Deus.
A citação “engana todo mundo” (v.9) mostra que a influência do diabo não se faz sentir mais sobre o povo, pois sua intenção foi desvendada e aqueles que obedecem e são fiéis à palavra e ao testemunho de Deus conseguem desvendar quais são suas artimanhas. 
O “diabo é arremessado”. Essa expressão ocorre cinco vezes (9,9.9;10;13). Agora o céu está limpo das forças do mal. O mal já foi lançado para fora (Jo. 12, 31); (Lc. 10, 18). Mais uma vez é retratada em forma de figura a força do mal. Em Gênesis ele é retratado como serpente, já em Apocalipse é retratado como dragão. Nos dois casos o intuito é o mesmo: enganar e induzir ao erro.

a’)   Perseguição na terra: mostro persegue a mulher (12, 13-18):

A mulher é salva no deserto (12,6). O deserto está ligado não somente ao Êxodo, mas a todos os momentos em que o povo de Deus passa por dificuldades (Ex. 19,4; Dt. 32,11; Ez. 17,7). Deserto na Bíblia é sempre lugar de provação.
Quem provê a salvação para o povo de Deus? Deus. A ajuda para o povo vem do próprio Deus, é ele mesmo quem provê a libertação do povo. Deus concede força ao seu povo para vencer as lutas e ser livre das amarras do mal.
João recorre ao Antigo Testamento em busca de quadros simbólicos.
Deus disse aos israelitas no Monte Sinai que os transportara em asas de águia e os trouxera para si mesmo (Êx 19.4). Os israelitas tinham acabado de escapar das garras dos soldados de faraó e podiam testificar que Deus os conduzira em segurança através do Mar Vermelho. Outras passagens falam das asas protetoras da águia (Dt 32.11; Is
40.31). Na verdade, Deus aplica a si mesmo a imagem das asas que servem como lugar de refúgio (SI 91.4). Com as duas asas da grande águia, que a mulher recebe de Deus, ela não mais foge, mas literalmente voa para o lugar que lhe fora preparado no deserto. A Igreja tem asas para voar para longe e escapar em segurança dos ataques do diabo. E óbvio que, com todos os seus recursos no mundo, Satanás está impossibilitado de aniquilar a Igreja. Deus lhe deu um lugar, e liberalmente a sustenta em suas necessidades diárias, da mesma forma como fez com os israelitas com respeito ao maná, às codornizes.
A expressão “por um tempo, tempos e metade de tempo” aparece novamente, o que equivale a três anos e meio. Esta referência é extraída de Daniel 7.25 e 12.7, e é a extensão de tempo que é igual aos quarenta e dois meses e aos 1.260 dias mencionados por João em outros lugares.
Uma curiosidade. Em um cenário histórico existem períodos literais de três anos e meio durante o tempo de Elias, o qual orou para que não chovesse (lR s 17.1; Tg 5.17). Houve um período literal de três anos e meio quando o templo foi profanado durante a guerra dos Macabeus, de 167 a 164 a.C. (1 Macabeus 1-3; 2 Macabeus 5); as profecias de Daniel 7.25 e 12.7 se referem a esse período.
Águas em alusão a eventos passados de Israel. Deus está constantemente encorajando seu povo a não temer mesmo quando os dilúvios ameacem tragá-los. Ele os conforta, dizendo: “Quando vocês passarem pelos rios, eles não os submergirão” (Is 43.2). Os dilúvios de falsidade, malícia, crime e sofrimento não serão capazes de surpreendê-los, porque Deus está de guarda. Seu povo não é varrido pelos redemoinhos que os cercam, mas são mantidos em segurança.
Deus faz com que a terra trague as águas que saem da boca da serpente. Seu povo entoou o cântico de Moisés em louvor a Deus: “Estendeste tua mão direita e a terra os tragou” (Êx 15.12). Mesmo que sofram fisicamente de muitas formas, Deus protege os seus do mal permanente, espiritualmente falando. Também podem ser feitas alusões à passagem de Nm 21.4-9 sobre a travessia do mar vermelho e a serpente.
A palavra terra não precisa ser tomada literalmente como no caso de Coré, Datã e Abirão, que foram tragados pela terra (Nm 16.30, 32; ver também Dt 11.6). Simbolicamente, a terra está para a estrutura da sociedade que, pela intervenção da graça divina, reafirma a moralidade, abole o mal e estabelece a verdade. O versículo 17 revela o alvo do dragão: destruir os que são seguidores de Cristo. Ao mesmo tempo, ele forma uma ponte para o capítulo 13, que introduz o dragão dando poder à besta que emerge do mar e à besta que emerge da terra. Toda vez que o dragão trama contra Deus
e seu povo, ele enfrenta inevitável derrota. Esse fato deveras conforta e tranquiliza todos os crentes de sua segurança e bem-estar espiritual.

b’)   Consequência da guerra na terra: alegria no céu: terror na terra (12, 12);
Depois de ser expulso do céu Satanás desce para a terra para perseguir e atormentar as pessoas. Mas qual tipo de pessoas ele atormenta?  As pessoas que estão com sua vida vazia sem a presença de Deus (Mt.12, 41-42). Jesus deu autoridade aos crentes em seu nome contra toda a obra das trevas. Por isso pede que a igreja avance e pregue o evangelho às nações (Mt.18,18-20).
A luta de Satanás já é uma luta vencida, pois ele não tem poder sobre os crentes em Cristo, mas sim sobre as pessoas que ainda não foram alcançadas pela palavra de Deus (I Cor. 4, 4). Por isso ele tenta sem fim cansar e minar a força dos cristãos, mas Jesus já o derrotou. A luta ,portanto, já foi vencida por Cristo na cruz.
Os vinte e quatro anciãos, os quatro seres viventes e todos os anjos experimentaram as intromissões de Satanás que agora chegaram ao fim. Assim, nem os céus nem os santos que habitam ali nunca mais ouvirão as acusações caluniosas de Satanás. Através da vitória de Cristo o próprio céu foi purificado.
Aqui está a linha divisória entre a Igreja triunfante no céu e a Igreja militante na terra, que resiste ao pecado e ao mal. Agora que a Satanás e a seus associados tiveram negada sua entrada no céu e foram expulsos para a terra, o diabo se encheu de furor contra o povo de Deus. Ele compreende que já está derrotado, que já lhe foi dado um
tempo limitado aqui na terra, e que no breve período que lhe foi dado ele deve desencadear sua fúria. Na terra e no mar, respectivamente, ele busca enganar e destruir os santos.
Satanás sabe que a oportunidade que Deus lhe deu é de curta duração. É o mesmo que três anos e meio, os quarenta e dois meses ou os 1.260 dias mencionados em outros lugares (11.2, 3; 12.6, 14; 13.5); essas indicações de tempo não devem ser tomadas literalmente, mas figuradamente. O Apocalipse caracteriza o tempo não em termos de cronologia, mas como um ideal. Este livro apresenta o tempo como uma idéia de forma sintética, sem a idéia quantitativa em termos de anos ou séculos. Quem controla o tempo e lugar não é Satanás, mas Deus. Portanto, os santos na terra conhecem as limitações do diabo, enquanto confiam no cuidado protetor de Deus.
c)       Centro: Canto da vitória: Agora a salvação já chegou (12, 10-11)
A chegada do Reino de Deus é anunciada com a vitória do cordeiro. Isso sinaliza a derrota definitiva de Satanás sobre a vida dos cristãos. Após ter sido derrotado no céu, tenta a perseguição na terra, mas já está destronado, uma vez que, o cordeiro o venceu na cruz, selando a vitória na ressurreição. Não somente o cordeiro venceu, mas todas as pessoas que estão em Cristo receberam o poder para vencer o diabo (Cl. 1,20; 2,14-15). Jesus colocou a igreja assentada nos lugares celestiais (Ef. 1,3.21-23) por esse motivo há cântico de alegria e júbilo, pois o maior trunfo do diabo era a morte e Jesus venceu a morte (1 Cor. 15, 55-56).
João quer comunicar que a vitória do Reino de Deus já se faz desde as esferas do mundo celestial. Quando menciona a salvação e sua proclamação de vitória o faz por meio disso. O autor menciona que o acusador já é derrubado e vencido e que, portanto, não tem mais poder.
O Apocalipse não põe ênfase no tempo cronológico, o que é de importância passageira, mas no princípio governante do tempo. Aqui o advérbio aponta para a linha divisória na história humana, a morte e ressurreição de Cristo, a qual resultou na vitória sobre Satanás (20.10).
Mais uma vez é necessário frisar que o Apocalipse não é um livro cronológico e sim “kairológico”, ou seja, sua noção de tempo é sempre cíclica. É um vai e vém a todo tempo. Por isso podem ser mescladas diferentes passagens bíblicas relacionadas ao mesmo evento. Nesses versículos em questão trata-se da vitória de Jesus definitiva sobre Satanás.
Há, inclusive, um cântico de vitória as palavras do cântico honram a Deus atribuindo- lhe a salvação de seu povo consumada em Cristo, o poder que Jesus recebeu para vencer a Satanás e o reino que o Senhor lhe entregou (IC o 15.24-28). Deus é supremo em seu reino. Ainda que Jesus tenha recebido plena autoridade, é Deus quem governa seu reino através de seu Filho (Ap 11.15). Jesus disse aos discípulos: Toda autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28.18).
A expulsão de Satanás das esferas celestiais tem ainda um significado importante, pois para o mundo do Apocalipse o céu determina os acontecimentos terrestres. Isso implica em dizer que a produção de se é feita nas esferas celestes determina as ações terrestres. Uma vez expulso do céu. Seu poder de influencia acaba. Agora ele não tem mais o poder de enganar e persuadir por que suas estratégias sucumbiram.
Ele, porém, não aceita a derrota ao ponto de desistir de suas más obras. Ao contrário, ele continua seus ataques, dia e noite, acusando constantemente os seguidores de Cristo e torturando suas consciências (I Cor 4.4). A luta se faz por meio do entendimento ou não da real dimensão do evangelho. Paulo chama isso sofisma e fortalezas erguidas com o intuito de dissimular a verdade (2 Cor 10, 4-5).
A vitória foi assegurada pelo sangue do cordeiro, Jesus Cristo. Aqueles que entenderam e professam sua fé na obra redentora e vicária de Jesus são os têm o sinal do sangue se Cristo sobre sua vida e existência.
João apresenta um quadro que retrata o povo redimido de Deus - quadro esse que não é limitado pelo tempo cronológico. Ele se preocupa com o passado, porém ao mesmo tempo com o presente e o futuro. E assim ele escreve no pretérito como se todos os filhos de Deus já tivessem entrado na glória. O Senhor Jesus Cristo lhes dá a vitória (Rm 8.37; I Co 15.57). A perspectiva de João não parte da terra - ainda sem vitória - para o céu, mas, antes, parte do céu – vitória triunfante – para a terra. Ele vê o triunfo de Cristo com todos os santos celestiais que venceram Satanás e partilham dessa vitória.
O sangue de Cristo é a chave desta passagem, pois os crentes redimidos pelo sacrifício de Cristo, destemidamente e sem qualquer hesitação, têm sido suas testemunhas (6.9). Esses crentes redimidos não valorizam sua vida acima da mensagem do evangelho; dispõem-se a oferecer sua vida por amor a Cristo. Jesus diz a seus seguidores: “Todo aquele que acha sua vida a perderá; e todo aquele que
perde sua vida a achará” (Mt 10.39; ver 16.15 e paralelos). O Senhor reiteradam ente ensina o princípio de alguém perder sua vida por amor a ele (ver, por exemplo, Jo 12.25). Paulo o demonstra quando se dirige aos anciãos de Efeso. Diz ele: “Todavia, não me importo, nem considero minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus” (At 20.24).


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