O profetismo na teologia


Muito se questiona sobre o envolvimento de religiosos em causas políticas e sociais. Frequentemente se ouve: religião e política não se misturam. Como se o religioso (ou a religiosa) fosse alheio aos acontecimentos desse mundo e não participasse da construção da cidadania; não tivesse direitos e deveres civis e não pudesse manifestar sua opinião sobre os mais variados assuntos.

Aparentemente quem defende a ideia de que religião e política não se misturam parece desconhecer tanto uma quando outra coisa, pois não há religião que direta ou indiretamente não seja política ou não se envolva com política.

A política deve ser entendida pela “arte” da convivência entre pessoas num espaço comum. Sendo assim, todos somos políticos. Há várias maneiras de se fazer política. Movimentos sociais, associações de bairros, organizações não governamentais, políticas partidárias, etc.

A teologia como ciência possui um viés autônomo diante da realidade em que se insere. Como ciência humana posiciona-se frente às mazelas e injustiças sociais. Nesse sentido possui um caráter profético, marcado pela denuncia das injustiças e propositora do caminho de reorientação.

Por esse motivo um religioso, comprometido com o profetismo da teologia não pode se calar diante das situações injustas vividas diante dos sistemas sociais. Por isso quando se posiciona politicamente – seja de forma partidária ou não – deve fazê-lo por meio de uma consciência profética, comprometida com um ideal de justiça e equidade.

Se tomarmos por base a tradição profética de Israel observaremos que as denuncias e pregações dos profetas tem maior tom político do que religioso. Quem hoje em sã consciência questionaria Amós? Jesus ou João Batista? Mas se faz isso vez por outra quando um religioso apoia um partido, personalidade política, ou causa social. Não parece um contrassenso?

Envolver-se com as questões sociais é uma maneira profética de fazer teologia. Essa tarefa pertence àqueles e àquelas que tem consciência de seu lugar social e profético diante da realidade. Tarefa para poucos. Por isso não é estranho tanto alarde. Estranho seria se essa maioria, dita cristã, entendesse de fato seu lugar social. Se isso ocorresse teríamos uma sociedade mais justa e harmônica. Como o profetismo é fermento... misturemo-nos com a massa para ver o que vai dar.

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