A formação do PT em Resende
O Partido dos Trabalhadores em Resende foi composto por duas correntes
distintas. Ambas iniciaram-se nos anos 80, tendo como ponto comum a influência
da formação do PT – Nacional em
São Paulo.
Uma delas foi liderada por José Fernando Stelzer (um dos fundadores do PT
– Resende e primeiro presidente do Diretório Municipal), que juntamente com
dois amigos, identificados por ele como Marquinhos da Resende Águas e Macedo, encontravam-se
na região do ABC paulista em busca de emprego na época da fundação do PT – Nacional.
No período em que estavam em
São Paulo , presenciaram as ondas de manifestações que
marcaram o final da Ditadura e o início da “Abertura” política no Brasil. Nesse
contexto estava inserida a formação do PT – Nacional.
Segundo Stelzer, ele e seus dois amigos participaram de diversas manifestações,
assinando inclusive um manifesto apoiando a fundação do PT.
Eu estava à toa em São Paulo. Fiz bico. Trabalhei como
jornaleiro.
Na mesma banca que tinha a lista da anistia, tinha o
manifesto para a fundação do PT. Eu fui uma das primeiras assinaturas. (STELZER,
2007).
Quando retornaram à cidade de Resende, ainda estavam fascinados com as
mobilizações em torno da formação de um partido dos trabalhadores e
viabilizaram meios de articular também a formação do partido na cidade.
Em entrevista, Stelzer relatou que desde sua infância identificava-se com
o socialismo. Participava de reuniões estudantis, movimentos de protesto, etc.
No período em que atingiu a maioridade, viu no PT a possibilidade de que a
utopia socialista pudesse se concretizar, pois se tratava de um socialismo
construído a partir dos trabalhadores e para os trabalhadores e, segundo ele,
não mediria esforços para colaborar com o sonho de milhares de brasileiros. Isso
se evidenciou nas diversas reuniões que, por falta de local adequado, foram
realizadas em sua residência para discutir a idéia da fundação de um partido de
esquerda na cidade, que dia após dia ia amadurecendo.
Outra corrente era composta por Márcio Prado, que relatou em entrevista
que mesmo militando no PDT e participando da campanha de Leonel Brizola ao
governo do estado do Rio de Janeiro, sempre foi simpatizante do PT.
Eu tive a sorte que o meu desencanto com o PDT foi
muito rápido. Eu cheguei a participar de algumas reuniões até por que, um amigo
meu, mais ou menos da minha idade, foi candidato a prefeito naquela época, o
Gilberto de Souza, e que me convidou a participar do partido. E eu via de
repente aquele partido eminentemente fechado, não tinha espaço para as pessoas
jovens, principalmente aqui em
Resende. Aí eu voltei à idéia do PT, e conversando com alguns
amigos que também tinham uma simpatia pelo PT falei: Que tal a gente fundar o
PT em Resende? (PRADO, 2007).
Segundo Prado, a única pessoa que ele conhecera até aquele momento (1983),
e que fazia campanha do PT na cidade, era um advogado do Rio de Janeiro,
chamado Rômulo Ramos de Souza, que foi procurado por ele para saber o que
deveria ser feito para que o partido fosse fundado na cidade.
Depois de ter entrado em contato com o Diretório Regional (estadual) e
ter procedido conforme suas orientações, uma reunião foi marcada na Câmara Municipal,
para que uma Comissão Executiva Provisória Municipal fosse eleita. Essa reunião
foi divulgada na cidade e as duas correntes que pretendiam organizar o PT –
Resende (uma liderada por Prado e outra por Stelzer) tiveram a oportunidade de
se encontrar pela primeira vez. Márcio Prado diz que a iniciativa de fundar o
Partido foi dele, juntamente com Rômulo, e que só conheceu Stelzer na reunião
que foi realizada na Câmara e dirigida pelos integrantes do Diretório Regional
do Partido. Dessa forma, em 28 de maio de 1983, foi formada em Resende a
Executiva Provisória. Segundo o jornal A
Lira, de 3 junho do mesmo ano:
O Partido dos Trabalhadores está se formando em Resende. Sábado
passado, na Câmara Municipal, o PT realizou sua primeira reunião e formou sua Comissão
Executiva Provisória. Do encontro participaram cerca de 40 pessoas, inclusive
representantes de diretórios de municípios vizinhos e da executiva regional do
partido.
A comissão executiva provisória ficou assim
constituída: Luiz Carlos Alves, Márcio Prado de Carvalho, José Fernando
Stelzer, Rômulo Ramos de Souza, Antônio Nascimento Santana e Paulo Moreira
Machado. Os cargos não foram definidos.
José Fernando Stelzer, um dos principais líderes
articuladores para a formação do PT Resende, explicou como a Executiva Provisória
agirá para a formalização definitiva do Partido no município.
- No próximo
dia 18, às 16h, estaremos novamente reunidos na Câmara e, entre outros assuntos,
vamos tratar da formação de núcleos de base, como aconteceu na favela da
Rocinha no Rio de Janeiro, onde o PT teve a maioria dos votos nas últimas
eleições. Mas esses núcleos de base não visam apenas votos, eles formarão
células de onde sairão os questionamentos sobre a execução do programa e ação
partidária.
Sobre a campanha de filiação, Stelzer disse que ela
não se fixará apenas no número estipulado pela Lei Eleitoral para a formação de
diretórios. (A LIRA. 03/06/1983).
Com a formação do PT em Resende, a cidade passou a ter todos os partidos
(PT e PDT), na época com representação nacional, sendo o PT o último partido a
se organizar na cidade. Seu primeiro presidente foi José Fernando Stelzer. Como
relata A Lira de 22 de junho de 1983.
Em reunião na Câmara Municipal de Resende, sábado
ultimo às 16h, a Comissão Executiva Provisória do Partido dos Trabalhadores – último
dos cinco Partidos nacionais a ser lançado em Resende – elegeu seu presidente,
José Fernando Stelzer. (A LIRA.
22/07/1983).
No momento em que o PT – Resende foi fundado, o Brasil ainda estava sob o
regime militar e sob “a abertura lenta, gradual e segura”, não tendo com isso
eleições diretas para presidente. Dessa forma o PT resendense, a exemplo do Partido
nacional, atuou junto à população na campanha das Diretas Já. Segundo Márcio
Prado “Essa foi a primeira participação de inserção social do PT no movimento
político de Resende”. (PRADO, 2007)
Essa manifestação contou com represálias por parte da polícia e dos
militares da AMAN, que interferiam arrancando faixas e fazendo denúncias, como
relata o jornal A Lira de 21 de abril de 1984.
O presidente do PT, Fernando Stelzer, em discurso
inflamado, criticou” algumas pessoas que hoje estão nesse palanque sem nunca
terem participado de uma reunião do comitê”. Afirmou que a policia retirou a
faixa do Partido dos Trabalhadores com inscrições: “Abaixo a ditadura militar.
Todavia o delgado Gentil Amaral garantiu que a coisa
foi um pouco diferente. Ele recebeu à tarde um telefonema do DIE – Departamento
de Investigações Especiais – solicitando a intervenção da Delegacia de Resende
para retirar a faixa na qual se fazia referência a ditadura militar. Segundo
Amaral, possivelmente o comando da AMAN foi quem comunicou à Secretaria de Segurança
no Rio a existência da faixa. (A LIRA.
21/04/1984).
O PT – Resende em seus primórdios teceu críticas ao governo municipal da
cidade, lançando inclusive um manifesto público contra o prefeito Noel de Oliveira
(PDT). Com essas críticas o partido visava denunciar falhas no governo, bem
como convidar as pessoas para ingressarem no partido.
Em um manifesto público lançado ontem – Sete de
Setembro – a Comissão Executiva do PT classifica a administração municipal
como” um descalabro” que veio à tona”, e critica veementemente o prefeito Noel
de Oliveira por investir no Mercado financeiro, ao atender as necessidades
imediatas da população.
O documento é enfático na condenação da política
econômica do país, “subordinada ao Fundo Monetário Internacional e seus agentes
no Brasil”. Considera nefasto o artifício do decurso de prazo, pelo qual “o
Governo pretende aprovar o estarrecedor Decreto – lei 2045, que rouba 20 por
cento dos já irreais reajustes salariais.”
O PT pede para que a classe operária se organize e
ingresse no partido, “que vêm se mantendo fiel ao compromisso de lutar pelos
interesses dos trabalhadores, sem conchavos, alianças ou acordos espúrios com o
regime militar (A LIRA, 08/09/1983).
Segundo o ex-prefeito de Resende Noel de Oliveira, essas críticas estavam
relacionadas à sua política renovadora, que procurava melhorar a cidade e
atender às necessidades das comunidades carentes como, por exemplo, bairros de
periferia, que não contavam com infra-estrutura e condições básicas como postos
de saúde, saneamento básico, etc. Essas obras foram feitas, segundo Oliveira,
em sua administração, porém para o PT essa política tinha um cunho reacionário,
pois visava remanejar funcionários do governo ligados à esquerda de seus postos
de trabalho.
Oliveira relatou que sofria críticas
tanto da ala ligada à esquerda (PT, movimentos ligados ao PCB, etc.), como da
elite da cidade, pois, de um lado, a esquerda queria reivindicar para si a
posição de promover as mudanças sociais, ou estar ligada a elas mesmo que fosse
de uma forma indireta, e de outro lado, havia o “conservadorismo oligárquico”, (como denominou o ex-prefeito) que
não estava interessado em nenhuma mudança, e isso, segundo ele, levou seu
governo a ser “bombardeado” de ambos os lados.
Juntamente com manifestações junto à população, denúncias e intervenções
políticas, a proposta do PT era incrementar ao máximo os núcleos de base. Esse
foi o enfoque da pré-convenção do Partido em 12 de maio de 1984 no salão
paroquial do bairro Paraíso.
Segundo Stelzer em entrevista ao A
Lira no dia 18 de maio de 1984 “um
dos principais lemas do partido é trabalhar junto ao povo”. O que em sua visão significava levar aos bairros a proposta
po
Inserção
Social
O PT – Resende teve como uma de suas missões a conscientização política da
população trabalhadora e a busca de inserção social no processo político-eleitoral
da cidade – principalmente dos trabalhadores, pois nasceu com esse nome – e da
população de periferia, que sempre se viram à margem dos processos políticos.
Segundo José Stelzer “a cidade por muitos anos foi vítima de uma política
conservadora” e essa conscientização
se fazia necessária para que todos pudessem participar ativamente da vida
política da cidade. Isso ocorreu através de reuniões, debates e convenções
realizadas pelo partido.
Trabalhar junto do povo como afirma Stelzer, significa
levar aos bairros da periferia a proposta política do PT de popularidade ainda
mais. A discussão polêmica ao que tudo indica será em torno de como colocar em
prática essa proposta. Para Stelzer, a solução está na criação de núcleos em
todos os bairros, que sejam incrementados ao máximo. (A LIRA. 12/05/1984).
Através dessas atividades o PT – Resende buscava cada vez mais apoio
entre as classes sociais, sendo a classe trabalhadora um dos principais focos
do partido, pois a exemplo do que ocorrera no PT – Nacional, o partido resendense
buscou apoio em setores que considerava como “chaves” para a difusão de sua
ideologia.
Não era apenas o governo que foi considerado conservador por parte de
Stelzer, mas também o setor empresariado. Por isso o partido passou a promover
reuniões, debates, etc. com o intuito de conscientização e adesão da classe
trabalhadora.
O jornal A Lira de 1 de
setembro de 1984 relata a posição de Stelzer sobre “o debate sobre sindicalismo”
que se organizaria em 4 de setembro do mesmo ano.
Para o presidente do PT de Resende José Stelzer esta
será uma boa oportunidade para o partido contribuir para o fortalecimento do
movimento sindical na cidade. Stelzer acha que só através do movimento de
conscientização da classe trabalhadora, Resende poderá sair da “triste” posição
em que se encontra em termos de sindicalização. (A LIRA. 01/09/1984).
Ainda segundo o jornal, o intuito do partido era contribuir para
modificar o conceito “conservador” com que o tema sindicalismo era visto na
cidade. Por isso convocara várias lideranças sindicais da região para falar
sobre o tema “A importância do Sindicato na luta do trabalhador”, para que as
possíveis dúvidas fossem sanadas.
Nesse evento estiveram presentes o presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos do Sul Fluminense, José Juarez Antunes, e o representante da CUT
regional e também presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói, Abdias
José dos Santos.
Ainda em relação ao sindicalismo na cidade Stelzer diz:
O Sindicato dos metalúrgicos só tem 90 trabalhadores
inscritos em Resende.
Esse número é muito pequeno com relação à quantidade de
profissionais do setor que trabalham na cidade. (A LIRA. 01/09/1984).
O jornal também ressalta a posição do presidente do partido no que diz
respeito à relação empregado-patrão, e o motivo real da conscientização que o
PT visava.
Na sua opinião a razão dessa pequena conscientização
da classe trabalhadora está no tratamento “ paternalista e conservador” do
empresariado local. Segundo ele, alguns trabalhadores quanto interessam-se pelo
movimento sindical, são logo pressionados pelos patrões com ameaças ate de
demissão, razão pela qual se omitem para garantir o emprego. Stelzer citou como
exemplo, a formação da Associação dos Trabalhadores da Construção Civil que
“foi obstacularizada” pela pressão dos empresários do setor, numa flagrante
intimidação aos operários. (A LIRA.
01/09/1984).
Dessa forma o PT – Resende buscava repetir a tática do PT – Nacional, no
que dizia respeito à inserção social, pois os apoios que eram obtidos na cidade
eram basicamente os mesmos que foram obtidos na fundação nacional do partido,
porém em menores proporções.
Segundo Márcio Prado, os militantes do partido em
Resende, por orientação do Diretório Regional, procuraram o padre Pedro Fabis e
o médico João José Caramês para que esses apoiassem o partido na cidade, se
filiassem e começassem a militância petista juntos. Porém, o PT não conseguiu
encontrar o apoio desejado, pois o padre não quis filiar-se, e disse que no
máximo poderia indicar pessoas para essa filiação. Por parte do médico o
Partido não obteve o apoio desejado também no sentido da filiação, pois esse,
juntamente com sua esposa, era ligado ao PC do B e não quis se filiar, mas
ambos apoiaram os movimentos promovidos pelo partido.
A ala progressista da Igreja
Católica apoiava o partido, cedendo espaço para reuniões e participando
ativamente das discussões, juntamente com suas pastorais. Muitos desses
participantes (que incluíam desde moradores e representantes de movimentos de
bairro até agentes das pastorais) tornaram-se militantes do partido, que
segundo Stelzer, contou também com apoio de professores, médicos e outros
setores sociais.
Apesar de muitos desses apoiadores não chegarem a se filiar, eles participavam
das lutas e movimentos em conjunto com o partido, junto às comunidades. Como
foi caso do casal de médicos João José Caramês e sua esposa, Maria José
Caramês, que por conta desse apoio sofreram represálias do governo municipal,
merecendo inclusive nota no jornal A Lira,
de 14/01/1984.
O sindicato dos médicos do Rio de Janeiro, ao tomar
conhecimento do que estava ocorrendo com os médicos João José Caramês e Maria
José Caramês, enviou dois telegramas: um destinado ao prefeito Noel de Oliveira
e outro ao secretario de Saúde, Wilkie Marques.
No primeiro o conteúdo foi o seguinte: “Sindicato dos
médicos repudia ato arbitrário as vitimas João José Caramês e Maria José
Caramês. Atitude contraria os compromissos assumidos com o povo na campanha
eleitoral. Vigilantes tomaremos medidas necessárias na preservação dos médicos
em seus postos de trabalho.”
O outro telegrama dirigido ao Dr. Wilkie dizia o
seguinte: “Arbitrariedade e perseguição sofrida pelos doutores João José
Caramês e Maria José Caramês contrariam o movimento de luta democrática.
Atitudes passíveis de abertura de inquérito, conselho de ética médica.
Revogação das medidas aguardadas.” (A
LIRA. 14/01/1984).
Segundo o jornal, os médicos, que eram ligados ao PT, atuavam junto à
comunidade do bairro Vila Vicentina (periferia da cidade) onde desenvolviam
trabalhos sociais e de conscientização política através da Associação dos Moradores
do bairro, e a medida tomada pretendia afastá-los ou transferi-los para outro
local. De forma que fica evidente a represália que foi sofrida por esses
militantes, apoiadores e simpatizantes do partido na cidade. Outro jornal da
cidade noticiou que:
Com faixas de plástico branco e a estrela do PT,
alguns adultos e muitas crianças portando cartazes contra o prefeito municipal,
percorreram as ruas centrais da cidade passando pela prefeitura, protestando
contra a transferência do Medico Caramês e sua mulher, também médica,
anteriormente lotada na Vila Vicentina. A passeata transcorreu em ordem. (JORNAL
DE RESENDE. 12/01/1984).
O PT, segundo o relato de Márcio Prado, fazia-se presente nos diversos
movimentos da sociedade. Incluindo lutas pelos direitos humanos e movimentos
ligados à Igreja Católica, mantendo um relacionamento e estando presente nos
movimentos que aconteciam em Resende.
Eram reuniões sobre direitos humanos, aí teve denúncia
de trabalho escravo na Florim, que foi isso ai de movimentos da Igreja. O PT
participou junto, quer dizer, manteve sempre, embora as pessoas não tivessem
partido, mas o PT manteve um relacionamento, esteve presente na luta do que
acontecia em Resende.
Então era impossível dizer que o PT estava fora da luta. Isso
mantinha pelo menos nossa presença. (PRADO, 2007).
Perfil
político-ideológico
Resende foi tida tanto pelos periódicos que circulavam na cidade, quanto
por políticos da cidade, como uma cidade politicamente conservadora. Dessa
forma o PT buscava o rompimento dessa política que era considerada por muitos
como “arcaica”.
O ex-prefeito de Resende Noel de Oliveira confirmou essa característica
da política resendense e explicou o sentido desse conservadorismo que, segundo
ele, estaria nas “mãos” das oligarquias locais que não estariam interessadas em
qualquer mudança na cidade e queriam, contudo, manter o “status quo” e garantir
para si o poder juntamente com as benesses que esse lhes poderia proporcionar.
(OLIVEIRA, 2007).
Isso pôde ficar esclarecido no relato feito pelo mesmo sobre o episódio
de uma fazenda que havia pertencido à família Breves e que teria ido à praça em
favor da Prefeitura de Resende. Essa fazenda tinha ao todo oitenta alqueires,
sendo que sessenta eram pertencentes à cidade de Resende na parte do Rio de
Janeiro e vinte eram pertencentes ao estado de Minas Gerais.
Esse episódio se mostrou interessante, por que não era do conhecimento da
população e nem do prefeito da época a existência dessa propriedade em nome da
prefeitura. Noel de Oliveira atribui essa falta de transparência às oligarquias
locais.
Eu nasci e me criei aqui, fui vereador e nunca ouvi
falar nessa fazenda. A gente ouvia falar da terra dos índios na Fumaça e
fazenda da Jacuba, que seus familiares conhecem bem. Não ouvia falar. Mas ouvia
dizer que aquele pessoal do Quita, que vivia do lado de lá e do lado de cá
também. Então, eu nunca ouvi falar, comecei a ler aquilo e disse: Meu Deus isso
é de Resende?! Mas o município não tem documento disso. Foi feito a praça por
que ele (Breves) autorizou. Com certeza as oligarquias tomaram conta eles não
deixaram vestígio que o terreno era da prefeitura por aí você calcula como era
feito. (OLIVEIRA, 2007).
Segundo o ex-prefeito, se essa propriedade continuasse nas mãos da elite
ninguém nunca iria saber que ela existiria e ela acabaria ficando com os
oligarcas. Em seu relato ele afirma que seu governo propunha a não-continuação
dessa prática política.
O PT de Resende também se propôs a romper com essa política conservadora
e inserir a população na participação da vida política da cidade, que já em
inicio dos anos 80, tinha um dos parques industriais mais importantes do país.
Por isso, o Partido sempre lutou ao lado da população, em diversos movimentos e
mobilizações no sentido de reivindicar, conscientizar e apoiar essa população
no que dizia respeito às suas necessidades. Como no exemplo dado por Márcio
Prado, em sua entrevista, em relação à passarela de Itatiaia (na época pertencente
a Resende), que após várias mobilizações em conjunto com o Partido acabou sendo
construída.
Segundo o Manifesto do PT resendense, a classe trabalhadora na cidade não
tinha representação junto à administração municipal, nem junto a qualquer órgão
ou nível de poder ou governo. Dessa forma, o partido se colocou como um
instrumento pelo qual a classe trabalhadora, juntamente com a população,
poderia de uma maneira eficaz e imediata, levar adiante as reivindicações e
conquistas dos direitos e prerrogativas que lhe eram pertinentes.
Portanto o partido se definia como um partido socialista, que a exemplo
do PT – Nacional, não era um partido marxista-leninista, mas defensor de um
socialismo construído por trabalhadores e para trabalhadores e que buscava a
conscientização e inserção das massas no processo político-eleitoral, e
participação da sociedade nas decisões administrativas, reivindicando com isso,
direitos, mudanças, transparência na administração, etc, agindo sempre como um representante
da população perante o governo, visando ser a “voz do povo”.
As necessidades básicas de infra – estrutura, de
saneamento e serviços públicos dos bairros mais pobres e atrasados não são
atendidas. O trabalhador, que produz, não recebe dos diversos setores
governamentais e de poder o que lhe é devido por estes. Não foi ainda
desmentida, a noticia veiculada pela imprensa local, de que o Governo Municipal
estaria aplicando soma considerável de recursos no mercado financeiro. Como se
não bastasse o resto, a especulação financeira é o câncer da política econômica
federal. Isto não foi atacado, como deveria ser, na ultima remessa de pacotes,
saída da seção de embrulhos do Planalto. O povo – que paga os impostos – os
deputados e senadores da Republica – que deveriam representá-lo – não vota os
acordos com o Fundo Monetário Internacional. Estas decisões são tomadas em
gabinetes fechados. E quem paga a conta?...
O PT só tem compromissos com o povo.
Está com os trabalhadores de todos os níveis, categorias e atividades.
“PT Saudações” (MANIFESTO DO PARTIDO
DOS TRABALHADRES DE RESENDE. A LIRA. 22/06/1983).
Por meio desse pequeno resgate histórico pudemos
observar como se deu a formação histórica do PT na cidade de Resende. Além
disso, observamos que o perfil conservador da cidade influenciou no insucesso
do partido em suas ações. Com o passar dos anos a realidade vem mudando – mesmo
por que a própria orientação do partido mudou.
Será que Resende conseguiu se desvencilhar das velhas
oligarquias? É um caso a pensar...
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