Entre o metodismo e "a" metodista: reflexões e apontamentos
O metodismo enquanto movimento de
renovação espiritual pode ser facilmente identificado com a religião dos
profetas do Antigo Testamento que faziam de suas denuncias sociais ingredientes
orientadores para uma espiritualidade saudável realmente comprometida com a
vida e a dignidade das pessoas. Rubem Alves O
que é religião?(1984) pontua que os profetas predicavam contra as mordomias
religiosas dos sacerdotes e sua apostasia “ Na verdade, boa parte de sua
pregação era tomada pelo ataque às práticas religiosas dominantes em seus dias,
patrocinadas e celebradas pela classe sacerdotal” (ALVES, 1984, p.102). A
exemplo dos profetas o metodismo, enquanto movimento, buscou resgatar a
dimensão de uma espiritualidade conectada com a vida e com a necessidade das
pessoas. Pode-se dizer que a “grande sacada” foi sinalizar para o caráter libertário
da religião numa crítica ad intra. “É
provável que os profetas tenham sido os primeiros a compreender a ambivalência
da religião: ela se presta a objetivos opostos, tudo dependendo daqueles que
manipulam os símbolos sagrados” (ALVES, 1984, p.106).
Atualmente os símbolos sagrados bem como as orientações institucionais têm sido utilizados para um projeto de poder que privilegia grupos e tendências e não leva em conta a dimensão existencial e espiritual dos fiéis. A maioria de torna “massa de manobra” e é levada a reproduzir discursos que em nada se relacionam com a realidade e verdade revelada do Evangelho de Cristo.
Atualmente os símbolos sagrados bem como as orientações institucionais têm sido utilizados para um projeto de poder que privilegia grupos e tendências e não leva em conta a dimensão existencial e espiritual dos fiéis. A maioria de torna “massa de manobra” e é levada a reproduzir discursos que em nada se relacionam com a realidade e verdade revelada do Evangelho de Cristo.
Heitzenrater em Wesley e o povo chamado metodista (2006)
faz um resgate do histórico do movimento metodista sinalizando para a
dificuldade de apontar um momento pontual de seu nascimento. O que se pode certamente
precisar é que seu advento nasce de uma busca espiritual profunda e
comprometida com a santidade que não se reduz ao âmbito tradicional religioso,
ou seja, trata-se de uma espiritualidade comprometida com a realidade social em
que se está inserido. Um dos elementos componentes do pensamento de Wesley nos
primórdios do movimento foi a “perfeição cristã”. De acordo com Heitzenrater “Esta
definição de santidade de Wesley, a perfeição cristã, se tornaria apenas a
marca distintiva da teologia metodista do século XVIII, mas também atuaria como
uma bússola para sua própria peregrinação espiritual para toda a vida” (HEITZENRATER,
2006, p.48). Como podemos notar o movimento metodista nasce de uma busca
espiritual incessante e consequentemente um comprometimento social relevante
denunciando, dessa maneira, a apostasia da Igreja da Inglaterra.
Acontece, entretanto, que à medida em que o movimento tornou-se institucional cresceu a dificuldade em contextualizar e manter o caráter metodista da Igreja. Isso se faz notar pelos modismos atuais e pela teologia (ou falta dela) que se tem optado nos últimos tempos. Tendo em mente que a alcunha de discipulado pouco ou nada tem relação com as bands, incentivadas por Wesley. Não obstante, a liderança atual não inspira uma espiritualidade sadia. Aliás, a santidade pregada pela maioria da liderança não faz “nem sombra” à proposta por Wesley e isso de dá por inúmeros motivos, talvez o maior deles seja a desvinculação entre teoria e prática.
Sobre a necessidade de
atualização Walter Klaiber (Teologia
wesleyana latino-americana e global (2011)) afirma
Aqui devemos lembrar primeiro uma
vez mais que a teologia de John e Charles Wesley nasceu na situação espiritual
e social da Inglaterra do século 18. Seu lar eclesial e teológico foi a Igreja
da Inglaterra, cuja doutrina e prática os Wesleys aceitaram em princípio e na
qual procuraram viver a atuar. Esse fato deveria nos alertar a não tentar
traduzir as afirmações teológica dos Wesleys numa escala de um por um para
doutrina e o anúncio da igreja de hoje. (KLAIBER, 2011, p.96).
O que Klaiber sinaliza é para a necessidade de uma atualização teológica coerente e condizente com nosso tempo. A herança wesleyana de movimento e dinâmica não deve desaparecer; não se deve primar pelo “institucionalismo”, de outra sorte, não se pode negar eixos básicos e históricos da teologia wesleyana como, por exemplo, sua busca por santidade, seu compromisso social e seu caráter profético.
A Igreja Metodista atual está em pleno
descompasso com suas raízes históricas, uma vez que, sufocou a heterogeneidade
interna e externa, isto é, praticamente eliminou quem pensasse diferente do
grupo hegemônico que elege os bispos e bispas e encerrou institucionalmente o
diálogo ecumênico e inter-religioso. Outra questão que entra em descompasso com
a história do movimento é o clericalismo eclesial. A Igreja Metodista historicamente
valorizou o laicato. Atualmente estes são sufocados e perseguidos pelas
lideranças eclesiais.
José Carlos de Souza (Leiga, ministerial e ecumênica (2009))
em sua tese de doutorado elenca bem a tríade de uma igreja LEIGA, MINISTERIAL E
ECUMÊNICA. Em contrapartida temos hoje uma igreja CLÉRIGA, PIRAMIDAL E
MONOLÍTICA, ou seja, que trai sua própria história, assim como, seus eixos
principais. Para Wesley não havia distinção entre leigos e clérigo, pois todos
tinham o mesmo chamado. Como afirma o prof. José Carlos “O chamado à perfeição
cristã compreendia a afirmação e maturidade e autonomia da pessoa, ainda que
não independentemente, e sim em interdependência, da comunidade, posto que era
compreendida, na sua essência como santidade e amor” (SOUZA, 2009, p.165).
Nesse sentido têm-se não somente a opção por uma igreja ministerial e
conexional, mas sobretudo orgânica e responsável. Uma igreja que prima pelo
horizonte da alteridade responsável, longe do isolacionismo atual.
É necessário enfatizar à volta aos fatores
primordiais do metodismo como salvação da Igreja Metodista atual. Enquanto
vivermos esses modismos eclesiásticos e despotismos episcopais estaremos contra
nossa própria história.

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