A sociedade brasileira anseia por um (genuíno) avivamento.
Sabe-se que a religião é uma
produção humana e que data desde os primórdios da humanidade. As pesquisas
antropológicas do Dr. Richard Laekey apontam que antes mesmo do advento do homo
sapiens sapiens a religião já existia e fazia parte da existência humana e
social. Peter Berger nos ensina que a religião pode ter duplo sentido em sua
interação social. Para o sociólogo ela pode ou alienar ou libertar o ser
humano.
Análises sociais à parte [...]
observa-se que há algo de errado com nosso cristianismo, tanto católico, quanto
protestante. Pois, nos dias atuais, ambos têm em comum a incapacidade de melhorar a sociedade e
propor algo de relevante para a transformação social, ética, moral e espiritual que tanto
necessitamos. Afinal, o evangelho devia fazer de nós pessoas melhores (ou não?).
A professora e ativista social
Magali Cunha sempre dizia que “o cristão precisa ler os sinais dos tempos”. E
nisso temos falhado. A herança histórica do cristianismo nos mostra isso. Vamos a alguns exemplos: no
seio protestante a reforma de Calvino teve grande papel social e orgânico na
Genebra do século XVI. Da mesma forma ocorreu com a Escócia no período de John
Knox, que através dos conselhos, organizava e auxiliava na gestão das cidades,
semelhantemente ocorreu na Inglaterra dos irmãos Wesley. No âmbito católico, as
décadas de 1960-1980 foram marcadas pelo avivamento e pelas CEB´s. E hoje?
O número de cristãos no Brasil
cresce absurdamente e junto com esse crescimento aumentou a violência, corrupção,
intolerância religiosa, polarização política, estelionato religioso, etc. Isso
sinaliza que necessitamos de um avivamento genuíno, que produza mudanças
significativas na sociedade, tanto espirituais, quanto sociais. Pergunto: que avivamento é esse que deixa as pessoas "mais espirituais" e com o caráter deturpado pelo "jeitinho brasileiro"? Falta amor, respeito, tolerância, compreensão e sobram orações. Afinal, para que se ora tanto? O propósito da oração não é mudar as pessoas para melhor? Não sei... tenho minhas dúvidas.
O que se deve entender por
avivamento? Um compromisso com os valores do evangelho proporcionando a
mudança de vida. Nesse sentido, faz se necessário
pontuar que não se trata de proselitismo, mas sim de um compromisso com a vida,
ética e justiça. Para tanto é premente que não somente os fiéis leigos se engajem, mas que também os líderes cristãos se desprendam de
sua vaidade e sua visão “escapista” de mundo e comprometam-se, de fato, com o
Reino de Deus - por que em se tratando de liderança cristã o quadro é cada vez mais deprimente.
Um dos problemas de nosso tempo são
os paliativos (tudo se resolve por meio de oração) e o discurso “escapista” (que
coloca tudo no prisma de uma expectativa futura e transcedental). Quando uma
pessoa ou família psicologicamente equilibrada, financeiramente estável adentram
uma das igrejas cristãs dificilmente conseguem permanecer muito tempo. Qual o
motivo? O cristianismo personalizado, vaidoso, escapista e sem proposta alguma
relevante.
A espiritualidade cristã necessita
de compromisso ético e social, do contrário, torna-se sectária - esta última a
mais comum entre os cristãos. Uma vez que é possível encontrar pessoas com
décadas de frequências a igreja e com o mesmo vícios comportamentais e visão
reducionista de mundo. Eticidade e moralidade devem refletir-se na espiritualidade, pois as propostas atuais apresentam-se cada vez mais como sublimação do que como proposições efetivas de fato.
O evangelho do Reino ensina a lidar com as frustrações. O cristianismo contemporâneo é triunfalista.
O evangelho do Reino ensina a prática da alteridade. O cristianismo contemporâneo é intolerante.
O evangelho do Reino privilegia a viúva, o pobre, o órfão e o estrangeiro. O cristianismo contemporâneo é elitista e visa a prosperidade.
O evangelho do Reino promove o encontro das diferenças. O cristianismo contemporâneo prega a máxima de que: "quem não é comigo, é contra mim".
O evangelho do Reino coloca Deus no centro. O cristianismo contemporâneo coloca as pessoas no centro, sendo Deus um argumento para promovê-las.
O que necessitamos é trabalhar a consciência
“basileiar” da igreja e utilizar as estruturas (conselhos, assembleias,
diretorias) para promover uma verdadeira mudança social e espiritual na vida das
pessoas que necessitam. Do contrário, o cristianismo não passará de uma “seita
insípida” como previa John Wesley.
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