A teologia da libertação morreu?

Esse post é inspirado nas aulas e na convivência com o prof. Cláudio Ribeiro. Para melhor aprofundamento sobre o tema recomendo a leitura do livro A teologia de libertação morreu? Aproximações entre o Reino de Deus e a espiritualidade hoje.
A Teologia da Libertação é uma corrente teológica que foi desenvolvida inicialmente na América Latina entre as décadas de 1960 e 1970, inspirada na opção pelos pobres contra a pobreza pela sua libertação. Ela utiliza como ponto de partida de sua reflexão a situação de pobreza e exclusão social interpretados à luz  da fé cristã. Tal situação é entendida como produto de estruturas econômicas e sociais injustas, influenciada pela visão das ciências sociais, sobretudo a teoria da dependência na América Latina, que possui inspiração marxista.



A Revolução Cubana (1959) pode ser tomada como pano de fundo para o surgimento da Teologia da Libertação, pelo fato de tratar-se de um fato de suma importância, tanto para a América Latina, como para toda a comunidade mundial, pois se por um lado a revolução liderada por Fidel Castro, Ernesto “Che” Guevara, Raul Castro e demais militantes da frente revolucionária cubana teve a capacidade de despertar o ânimo dos jovens idealistas latino-americanos, de outro ela foi capaz de mobilizar setores como o serviço de inteligência americano no combate ao regime cubano. As represálias às ameaças comunistas não ficaram somente em Cuba – através da invasão da Baia dos Porcos – mas estenderam-se por todo o continente através dos diversos golpes militares.



Os anos foram se passando, e alguns escândalos nos países socialistas foram sendo revelados. Talvez, um dos mais marcantes foram às denúncias feitas por Nikita Khruschev, apontando as barbaridades cometidas por Stalin. Somava-se a isso, avanço dos ideais neoliberais e o definhamento dos sistemas socialistas.



No âmbito eclesial, também houve muitas denúncias e polêmicas envolvendo os teólogos da libertação, sobretudo, pelo fato de ambos, tanto socialistas, como teólogos, sempre levantaram a bandeira da ética. Tais fatores serviram para os opositores de ambas as correntes, como um sinal de sepultamento das ideologias de esquerda.



Com a queda do muro de Berlim, e a derrocada “oficial” do socialismo europeu. Teve-se também o abalo de alguns idéias ligados a esse sistema. Dentre eles, o ideal da Teologia da Libertação. Alguns teólogos buscaram várias tentativas de releitura, mas o que se ouve com muita freqüência é que a Teologia da Libertação morreu, pois se por um lado a Revolução Cubana marcou seu nascimento, a queda do muro de Berlim, marcou – para muitos – a sua morte.



Não creio que ela tenha morrido, mas sim que tenha se desdobrado em várias outras. Admitir que a morte da TdL seria admitir o triunfo do sistema neoliberal e das teologias ligadas a tal ideologia. Seria repetir a frase de Fukuyama aceitando o fim da história.



A Teologia da Libertação - assim como o marxismo e outras formas de críticas e esse sistema injusto (capitalista/neoliberal) -  não morreu, mas continua viva, como uma ferida aberta, latente, tanto na sociedade, quando nas instituições (ligadas à Igreja, principalmente), e por mais que a queiram calar ela – juntamente com seus seguidores – continua a gritar e a denunciar as tiranias e crueldades feitas em nome de deus, seja ele, o deus do mercado, ou aquele projetado por vários psicóticos travestidos de sacerdotes.



Por isso afirmar-se como um teólogo da libertação na atual conjuntura é protestar contra a tirania da maioria; é não se vender a esse sistema opressor, e acima de tudo, acreditar que um mundo melhor é possível, e que ele é (e pode ser) construído pelos pobres e oprimidos dessa sociedade, pois só pode haver democracia, quando a minoria tem a possibilidade, de um dia, tornar-se maioria.





Comentários